segunda-feira, 30 de março de 2009

Uma Bicicletada resumida em uma breve conversa

Foto: Luddista

"Quer ganhar um cestinho para essa sua bike? Tenho um sobrando em casa". Logo que apareci na Bicicletada com a minha Caloi Terra Piracicabana, recebi este presentaço do Cuevas, nosso amigo chileno mais conhecido como XupaKavraz. Aquela oferta já sinalizava para mim o espírito da Bicicletada e, claro, aceitei o cestinho na hora!

Daí pra frente a minha relação com a bicicleta mudou. O cestinho, mais que dar um charme no pedal, quebra galhos absurdos. Leva a mochila, as compras, os livros e as flores! Houve uma única condição para que eu ganhasse o cestinho: aparecer na Bicicletada com ele carregado de flores.

Prometi e cumpri. Na Bicicletada de julho lá estava eu, a magrela piracicabana, o cestinho e as flores – que me fizeram conhecer a feira de flores do CEAGESP e criar um ritual quase religioso de comprar flores quase todas as sextas de manhã. Promessa cumprida, o que é que eu ia fazer com aquele montão de flores na cesta? Resolvi entregá-las aos motoristas, que aguardavam (im)pacientes a Bicicletada passar.

Acho que essa foi uma das idéias mais felizes que já tive. Pude ver rostos emburrados se transformarem em sorrisos, pude ouvir incentivos daqueles que eu achava que só teriam insultos para uma ciclista no trânsito, pude ver crianças estenderem os bracinhos pela janela e pedir uma flor, pude ver vida florida entrando nos carros parados na imensidão do trânsito.

Daí pra frente ganhei a fama de “menina das flores”. Toda Bicicletada lá estava eu com o cestinho cheio de flores, panfletinhos para serem entregues junto às rosas e margaridas, explicando o que é a Bicicletada. E eram mais sorrisos, mais palavras, mais vida e ao final de cada Bicicletada levava comigo pequenos gestos, pequenas frases que tornavam tudo aquilo ali mais alegre. Era até uma maneira de acreditar que é possível ciclistas e motoristas viverem em harmonia.

Em dezembro troquei de bicicleta. Chegou a Serafina pronta para agüentar as minhas novas aventuras. Mas, ela não tinha cestinho. Pior, ela tem suspensão e por isso é preciso um cestinho que seja preso somente no guidão. Resolvi ficar só com o bagageiro e acreditei que a Bicicletada estava crescendo tanto que já havia muitos outros cestinhos capazes de carregar flores e panfletos.

Doce ilusão. Pode até ser que surgiram outros cestinhos, outras flores, outras intervenções. Mas, para mim, a Bicicletada passou a ter um certo vazio. Não havia mais os sorrisos, os olhares, o sonho de acreditar na harmonia do trânsito... além disso, surgiram os problemas das brigas, intrigas, discussões com os motoristas que foram me deixando injuriada. Ao final das Bicicletadas de janeiro e fevereiro me vi chegando em casa com algumas reclamações, estresses, etc e tal.

Eis a decisão: vou colocar cestinho na Serafina, custe o que custar. E custou. Comprei um cestinho lindo, fofo e caro, mas que pode ser removido a qualquer instante, tem alcinha e eu carrego comigo até mesmo quando não estou com a magrela,e o melhor: que carrega flores, muitas flores...

Voltei para esta Bicicletada ansiosa e com 120 rosas no cestinho. Foi sensacional e especial. Pois ouvi coisas tão legais, ganhei beijos e abraços da molecada na rua, ganhei tantos sorrisos, que tinha vontade de ficar a noite toda entregando flores para a cidade. Num certo momento, entreguei uma rosa para um casal de idosos dentro de um carro e junto entreguei um panfletinho escrito “Onde você quer viver?”. Falei para eles “aí tem um textinho pra vocês refletirem sobre que tipo de cidade vocês querem viver”. A senhora, no banco do passageiro, sorriu e me respondeu de pronto: “mas eu já sei em que cidade eu quero viver. Quero viver na cidade que você vive!”.

A resposta dela valeu a minha Bicicletada do mês.

5 comentários:

  1. Querida menina das flores... que linda história! Ai tb quero um cestão para a La Negra! Respondi seu comentário lá no notas...
    Tô com saudade de vc!
    beijão Linda.

    ResponderExcluir
  2. Olá!

    Eu gostaria de indicar bicicletadanatalrn.blogspot.com para o Planeta planeta.bicicletada.org. Mas não sei com quem falar...

    Penso que, por vocês já estarem naquele Planeta, vocês podem me aproximar do responsável.

    Alexandre Magno

    ResponderExcluir
  3. Evelyn, linda a sua cesta! Não sei o que seria de mim sem a minha cesta, carregando compras, ferramentas....

    Quero ver você sempre com suas flores! Esse é o espírito da bicicletada!

    ResponderExcluir
  4. Inspirador... me deu vontade de dar - e receber flores! Tem tudo a ver com a bicicletada Evelyn, trazer sorrisos pra esse pessoal de cara fechada.

    abração :Dudu

    ResponderExcluir
  5. Oi Evelyn, talvez vc não se lembre de mim mas conversamos numa destas viagens pra Sorocaba em que eu segui com o grupo até Osasco apenas.
    Vc me comentou que usava uma Caloi Terra (pq eu uso) e que gostava e etc, sempre com esse seu jeito simpático.

    Eu não imaginava a sua história das flores e confesso que uns tempos atrás, com aqueles protestos na USP em que os estudantes jogaram flores nos policiais eu pensei em levar flores pra bicicletada, rosas brancas, pra entregar aos motoristas, só não imaginava que vc já fazia isso, fiquei muito feliz, ainda mais em conhecer a versão completa da história agora!

    Um beijo e muitas pedaladas floridas pra vc!

    ResponderExcluir