sábado, 31 de janeiro de 2009

Entre dois dias chuvosos

Era um domingo, início do mês de agosto. Antes das 6h da manhã eu já estava de pé. Havíamos combinado de fazer o prólogo até Sorocaba. Ansiedade total, primeira cicloviagem, frio na barriga... chuva, muita chuva.

Nem me importei com a chuva que caia lá fora. Me arrumei, peguei minhas coisas e tocou o celular. Era a JuM falando que com chuva não daria para irmos, que todos já estavam desmarcando e o negócio era correr para debaixo do cobertor quentinho!

Não me dei por satisfeita. Falei que estava saindo de casa e indo até a Praça do Ciclista. Eu tinha certeza que já devia haver alguns persistentes por lá. Fui e tinha razão. Haviam dois ciclistas escondidinhos no Instituto Cervantes, fugindo da chuva e tão ansiosos e amedrontados quanto eu, pois também seria a primeira cicloviagem deles. Um deles era o Ayrton, que eu já conhecia de algumas pedaladas. A outra, uma moça recém chegada à Bicicletada, chamada Márcia.

Por causa da chuva e dos desencontros que ela causou, não chegamos a Sorocaba, mas a Embú das Artes. Foi um dia delicioso, que tempestade nenhuma conseguiria estragar. No caminho a Márcia pensou em desistir, disse que não aguentaria nosso ritmo e que estava voltando para casa. Insistimos para ela ficar e ela foi... foi firme e no final do dia ainda disse ter tido o domingo chuvoso mais feliz da vida dela. Realmente, foi muito feliz!

Depois disso, a Márcia se destacou entre as centenas de ciclistas que aparecem nas Bicicletadas. Foi até Sorocaba, Ubatuba, Santos, entrou na onda das Fixas, atazanou a vida das ouvidorias da SPTrans, CET, Artesp, Ecovias, etc... nem pareceia ser a mesma pessoa que no dia chuvoso que nos levou até Embú chegou a cogitar dar meia volta e ir para casa.

Ontem, dia de Bicicletada, o dia era chuvoso como o domingo de Embú. Mas, a Márcia não estava lá. No dia 14 de janeiro, em plena Av. Paulista, palco de nossas Bicicletadas, um ônibus a atropelou e a matou. Desespero, angústia, tristeza, dor. Foi um choque tremendo perder úma ciclista como a Márcia de uma forma tão brutal. Os dias que se seguiram foram uma mistura de medo e de vontade de seguir em frente com a minha bike, para continuar reivindicando um espaço que também é meu e da minha bike: as ruas da cidade.

Por fim, não partimos para nenhuma guerra, mas, para a paz. Na Bicicletada de ontem, choveu, choveu muito. Ainda assim, reinou a mesma persistência daquele domingo chuvoso que fomos até Embú. Mais de 100 ciclistas encararam a tempestade, vestidos com camisetas brancas com o nome da nossa querida Márcia, pedindo paz no trânsito.

Entre o domingo chuvoso de Embú e a Bicicletada chuvosa de janeiro de 2009 tivemos uma Márcia Prado muito presente. Ela cogitou desistir naquele domingo, mas seguiu em frente e foi um verdadeiro exemplo de garra e persistência.

Agora, seguimos nós em frente, com um ano inteiro de Bicicletadas, cicloviagens e cicloeventos para acontecer e, na bagagem, tudo o que aprendemos com a Márcia entre estes dois dias chuvosos.

Domingo chuvoso - mas chegamos até Embú (Foto: Daniel Haase) Depois desse dia, a Márcia foi longe. Aqui, indo para Sorocaba (Foto: Mário Canna)

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Esta sexta é dia de Bicicletada


O tema não poderia ser mais propício: Bicicletada da Paz
Enquanto motoristas atropelam ciclistas, países bombardeiam nações e o caos se instaura na humanidade, nós queremos pedalar pela paz. Paz no trânsito, paz nas cidades, paz em nossos corações.
Essa sexta (30.01) é dia de Bicicletada. A primeira do ano. Os ciclistas tomarão as ruas, vestidos de branco, pedindo pela paz. Será que isso é possível?!
Eu acredito que sim! É por isso que, amanhã, antes das 20h, já estarei lá na Praça do Ciclista (Av. Paulista X Consolação) com a minha bike, vestida de branco, pronta para pedalar, para gritar "menos carros, mais bicicletas"... só não haverá as flores. Não tenho mais bike com cestinho=(
Acabei de assistir um vídeo muito legal da Globo News, com o tema "A bicicleta como meio de transporte". Gostei demais.
Fiquei imaginando um mundo onde as bicicletas fossem o principal meio de transporte. Já pensou nos benefícios para toda a humanidade?!
Tenho certeza que se mais pessoas pedalassem mais por aí, teríamos um mundo vivendo em paz.

Copiando um ótimo post

Estava pensando em algum assunto legal para postar aqui antes da Bicicletada de amanhã.

Aí, o Leonardo Cuevas, também conhecido como XupaKavraz ou, simplesmente, XPK, postou esse baita serviço no blog dele:

Também disponível no: http://xupakavraz.wordpress.com/2009/01/28/usebike-resumindo/

"Fiz este post porque volta e meia alguém me pergunta como funcionam ‘essas bicicletas do Metrô’, e porque acho que um serviço virtualmente gratuito, aberto para a população, bom para o ambiente e para a cidade, precisa ser bem divulgado e explicado.

UseBike,
MetroCiclista,
Bikes da Porto,
Bicicletários Parada Vital
ou
Como Chegar da Barra Funda a Santana em 20 minutos sem pagar nada.

Chame como quiser, novos bicicletários foram inaugurados no aniversário de São Paulo e trazem um novo paradigma (práticamente grátis) de deslocamento pela cidade.

O sistema começou a funcionar parcialmente a meados de 2008, mas agora são muitos mais lugares do que no ano passado, e não se restringem apenas às estações do Metrô de São Paulo.

O que são?
São instalações que contam com 10 bicicletas para empréstimo e 10 vagas para estacionamento de bicicletas, utilizam um sistema integrado para controle das bicicletas, conectados por modem 3G.


Como estacionamento, é grátis.
Funciona das 6h às 22h e você pode usar a sua própria bicicleta para ir, por exemplo, de casa até o metrô, e deixando-a no bicicletário aos cuidados do funcionário, e continuando de Metrô.


Na primeira utilização é necessário fazer cadastro.

Como empréstimo de bicicletas, é gratis na primeira hora.
Apenas na primeira hora, para estimular a rotatividade, não se paga nada. Além desse período, só pagando R$ 2 por hora adicional.


O mais importante é que você pode pegar a bicicleta num bicicletário e devolver em outro. Daí a importância que o sistema seja integrado.

Para pegar uma bicicleta é necessário apresentar documentos de identidade, cartão de crédito e fazer cadastro se for a primeira vez.

Para quem não tem cartão de crédito

Para quem não tem cartão de crédito, ainda existe a possibilidade de fazer a carteirinha da UseBike, levando documentos, 2 fotos e comprovante de residência para a sede da Ong Parada Vital. Mas tem um preço: R$ 50. R$ 25 desse dinheiro serão revertidos em créditos para o sistema (aqueles R$2 de quando passa de 1 hora).
Rua Barra Funda, 827 Sala 1 - São Paulo SP - fone: 11 3661 0332. paradavital@paravital.org.br
Aliás, a Rua Barra Funda fica perto do Metrô do mesmo nome, mas fica mais perto da Marechal Deodoro.

Onde estão?
Os bicicletários estão nas estações de Metrô:

-Linha Azul: Santana, Armênia, Liberdade, Paraíso, Vila Mariana.
-Linha Vermelha: Barra Funda, Marechal Deodoro, Santa Cecília, Anhangabaú, Sé, Brás, Carrão, Guilhermina-Esperança e Corinthians-Itaquera.
-Linha Verde: Vila Madalena.

Como a Linha Verde só tem um bicicletário, os Estacionamentos Estapar entram para complementar a malha na região da Paulista:

-Conjunto Nacional - Rua Padre João Manuel, 60.
-Garagem São Luís - Av. Paulista, 2378.
-Garagem Trianon - Al. Jaú, 850 (ent/saída Al. Santos, s/nº)
-Hospital Santa Catarina - Av. Paulista, 200.
-Novotel Jaraguá - Rua Martins Fontes, 71 – Centro.
-Shopping Frei Caneca - Rua Frei Caneca, 569.
-Top Center - Al. Joaquim Eugênio de Lima, 424.

Em todos estes lugares você consegue estacionar, pegar e devolver as bicicletas.

Adicionalmente, há um bicicletário onde voce só consegue, de momento, devolver a bicicleta:
Porto Seguro – Matriz - Rua Guaianazes, 1238 (Perto do Terminal Princesa Isabel)

As bicicletas para empréstimo são da Marca Sundown, há dois modelos:

-Sun (Linha Standard, Sem suspensão mas com cestinha)
















-Wave (Linha Top, Comfort Bike com suspensão dianteira e amortecedor de canote)















Capacete (Protek Tornado) de uso obrigatório e cadeado (cabo de aço) com chave completam o kit.

Importante: Cabo de Aço não é para largar bicicletas sozinhas na rua amarradas em poste, grade ou àrvore. Já tive uma bicicleta roubada assim. Utilize sempre bicicletários, paraciclos ou pontos de fixação onde haja alguém que fique de olho.

Como todas as coisas, nada é perfeito. Ao pedir o empréstimo de bicicleta com cartão, o funcionário escreve de próprio punho uma averbação no verso do termo de uso UseBike, indicando a cobrança no cartão de crédito em caso de não devolução da bicicleta. O sistema já deveria ter a opção de imprimir a averbação, ou pelo menos um carimbo com espaços para preencher a mão já ajudava a agilizar o processo.

Utilizando de forma metôdica, dá para usufruir gratuitamente do sistema, fugindo do metrô carregado, ônibus lotados, e carros eternamente engarrafados.

Bom, é isso, vamos prestigiar e utilizar este sistema agora.

Quem fica parado é poste ou carro no engarrafamento...

PS: Lembrando que todo dia após as 20:30, Sábado após as 14h e Domingo o dia inteiro dá para levar a bicicleta dentro do Metrô."


terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Cicloviajando

Saí de Sorocaba em 2003. Desde então, sempre voltei para a cidade de ônibus ou de carro. Só com esta afirmação, muitas pessoas já poderiam questionar: "Chegaria como? De barco, de avião?!"... Não! De bike, ué!

Quando decidi pedalar de São Paulo até Sorocaba - mais ou menos uns 100 km - não tinha nenhuma certeza que aguentaria até o final. Aliás, acho que toda cicloviagem começa com esta incerteza. Por mais que você se prepare, na hora "H" a sua cabeça entra em conflito com o seu corpo. Um quer chegar lá enquanto o outro só pede por descanso.

Mas, aguentei e cheguei! Imagine a emoção de você entrar na sua cidade, onde você sempre chegou com os meios de transporte mais óbvios, pedalando, pedalando, pedalando... Parece um filme. Me lembro exatamente o momento em que cheguei, ao final da última subida, e avistei Sorocaba. Caramba! Que emoção!

Viajar de bike é realmente maravilhoso. Mesmo que seja em uma estrada que você já passou centenas de vezes na vida, com a bike é possível descobrir paisagens que você nunca saberia que existia se estivesse dentro de um carro ou de um ônibus. E mais! Cada quilômetro da estrada ganha algum sentimento.

Hoje, quando vou para Sorocaba, durante todo o trajeto, cada pedacinho da Castelo Branco tem um significado. "A subida sem fim"; "A descida maravilhosa"; "O cenário exuberante"; "O vento na cara"... muitos pontos da estrada ganharam títulos, nomes e sensações.

Me lembro como se fosse ontem o diálogo com a minha mãe no dia que cheguei em Sorocaba de bike. Ela me disse: "Pronto Evelyn, tá bom né?! Você conseguiu. Você chegou na sua cidade de bicicleta. Agora chega, né?!".

A resposta: "Agora chega?! Agora que eu consegui chegar até aqui pedalando eu vou ganhar o mundo de bicicleta"!

Depois disso, fui mais uma vez para a minha cidade pedalando, fui para Santos, fui para Ubatuba... experiências que ainda vou relatar aqui.

No dia 09 de setembro eu entrarei num avião rumo à Alemanha. Lá vou fazer uma cicloviagem de 630 km, entre Berlim e Copenhagen. Além, é claro, de percorrer algumas cidades da Europa com a magrela. Será um mês de muitas histórias para contar.

Depois que pedalei até Sorocaba, eu, realmente, acreditei que posso ganhar o mundo em cima de uma bicicleta!

domingo, 25 de janeiro de 2009

Festa de aniversário, ano novo e a bike no metrô

É possível conhecer muito mais de uma cidade quando se anda de bicicleta. Primeiro porque quando pedalamos é possível, além de enxergar ao redor, sentir o cheiro, o vento, o calor e, até mesmo, o sabor do lugar. Tenho a sensação de que pedalar é poder sentir todas as sensações ao mesmo tempo e encontrar particularidades para cada cantinho da cidade.

Além disso, há o detalhe do ser explorador. Desde que comecei a pedalar em São Paulo, descobri um instinto de querer explorar a cidade. Hoje, vários lugares tem cheiros e cores específicos, fora as sensações como paz, alívio e, até mesmo, estresse (ai esse congestionamento e essa poluição...!).

Meu primeiro graaaaande passeio de bike pela cidade foi ao Horto Florestal. Até lá, já me achava incrível por ter registrado a super marca de 20 km pedalados (ida-e-volta!). No dia que fui ao Horto foram mais de 20 km somente de ida! A alegria da superação de ter pedalado tannnto se misturava com a possibilidade de conhecer um lugar lindo, verde, fresco... de bike e na companhia de amigos ciclistas muito animados e queridos, que fizeram o recorde de pedalada ser bem menos cansativo e muito mais divertido.

Depois disso, passei a acreditar que podia ir mais longe ou, simplesmente, pedalar bem pouquinho por aí e descobrir novos lugares! Assim cheguei desde ao Ceagesp, a 6 km da minha casa e um dos lugares mais floridos e cheirosos que já conheci, até o Pico do Jaraguá (que deve ficar a uns 30 km de casa, nem sei...), com direito a vista maravilhosa, piquenique, flauta e danças. Coisas que, às vezes, me parece que só com a bike eu poderia viver.

São Paulo é imensa e intensa. Tem toda essa loucura do trânsito, da correria, da poluição, ao mesmo tempo que abriga lugares ainda muito verdes e cheios de vida. Basta explorar!


Hoje a cidade fez 455 anos. Comorei pedalando. Enquanto 5 mil pessoas participavam do Bike Tour - mega evento que parou a via expressa da marginal Pinheiros para as bicicletas passarem - eu estava na inauguração dos sete novos bicicletários do Metrô.

O passeio, bem mais discreto (com uns 100 ciclistas), foi estranho e engraçado, graças à (des)organização do evento. Foi a chance para exercermos a nossa "experiência" das bicicletadas e dar um força, fazendo corking (segurando o trânsito no semáforo para deixar as bikes passarem), panfletando, falando - e algumas vezes discutindo - com motoristas de ônibus e dos carros.

De qualquer maneira, foi um baita presente para a cidade.

Depois do pedal matutino e ensolarado, foi a hora de deixar as comemorações de aniversário de lado e seguir para uma "festa" de ano novo. No bairro da Liberdade não se falava de 455 anos de lugar nenhum, mas, da entrada do "Ano do Boi" no calendário chinês. Era o Ano Novo Chinês.

E, assim, explorei mais um lugar da cidade. Pois até hoje, não havia andado pelas ruas do famoso bairro da Liberdade. São Paulo é grande demais!

Assim, terminei o meu 25 de janeiro com direito a comemoração de aniversário num ano novo chinês com sol, chuva e voltando para casa com a bike no metrô. Afinal, esse foi um dos presentes do dia e eu não podia deixar de explorar isso também, né?!

Bike Tour - 5 mil bikes na via expressa da marginal Pinheiros (Foto: Bruno Giorgi)

Estreiando o bicicletário da Liberdade (Foto: Bruno Giorgi)

Nós amamos bicicletários! (Foto: André Pasqualine com a câmera do Bruno Giorgi)

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Quem é que fez essa cidade feliz?!

O que faz uma cidade feliz?!

Quando eu era pequenininha, meus pais resolveram mudar para Sorocaba em busca de uma cidade mais tranquila e feliz! E realmente, lá fui muito feliz! Eu podia ir sozinha para a natação, ginástica olímpica, basquete e brincar na rua com a molecada.

Aliás, foi nas ruas sorocabanas que aprendi a andar de bicicleta, cair, ralar o joelho e dar risada!

E quando eu já achava que Sorocaba não era mais tão feliz assim, quando a cidade cresceu e ficou estranha, me veio Piracicaba. Quer dizer, eu fui para Piracicaba cursar a faculdade e no primeiro mês já dizia que tinha achado a cidade da minha vida. Me imaginava envelhecendo ali, criando os meus filhos às margens do rio, pescando, fazendo piquenique, andando de bicicleta pela Rua do Porto... eu era feliz.

Só que um dia achei um vazio em Piracicaba. Um vazio que eu não sei explicar o que é, mas que eu sabia que não seria preenchido ali. Então, surgiu a imensa, a grande, a gigante, a impossível: São Paulo.

Sempre fui daquelas que dizia "eu nunca vou morar em São Paulo". Quebrei a cara! Pois na primeira oportunidade, larguei toda a felicidade piracicabana, arrumei a mala, a cuia, a geladeira e o fogão e vim embora me arriscar na paulicéia desvairada.

Logo de cara detestei toda a cidade. Para mim tudo aqui era imenso e frio. A sensação que eu tinha era que o coração das pessoas devia ter sido concretado junto aos prédios gigantescos e infinitos. Não conseguia ver sorrisos, gratidões, alegrias... achava a cidade triste. Comecei a ficar agoniada. Na primeira oportunidade, sempre pegava minhas coisas e partia para Sorocaba ficar com a família e me sentir em paz.

Comecei a cogitar a possibilidade de voltar a morar em Sorocaba. São só 100 km de São Paulo, ônibus rodoviário a cada 15 minutos... não seria difícil viajar todos os dias para trabalhar. E ainda por cima, teria a certeza de um sono tranquilo, em uma cidade, talvez, mais humana. Talvez! Enquanto pensava se voltava para Sorocaba, se encarava São Paulo de uma vez por todas, tomei uma decisão: tirei a poeira da minha Caloi Terra, que foi meu meio de transporte por anos em Piracicaba, e resolvi que não seria diferente só porque a cidade era muito maior, muito mais perigosa e as pessoas mal educadas.

Na verdade, pedalando em São Paulo foi a maneira que encontrei de sentir que eu ainda tinha, ao menos, um pouco do meu estilo de vida do interior. Mas, logo de cara, passei altos perrengues. Não conhecia a cidade direito, fazia caminhos horrorosos, caia em ruas movimentadíssimas. Sofria. Mais um motivo para eu achar que São Paulo, definitivamente, não era o meu lugar.

Eis que num final de semana em Sorocaba, estava eu e minha bike guerreira, que ganhei no meu aniversário de 11 anos, circulando pelas ciclovias da cidade (ai que orgulho!) e encontro pedalando, no sentido oposto, um amigo de longa época, que não via há, no mínimo, uns 5 anos. Automaticamente, eu fui torcendo o pescoço para ver se era ele e ele torcendo o pescoço para ver se era eu. Cada um deu meia volta e eis o papo do "nossa!!... quanto tempo / o que tá fazendo da vida?"... essas coisas! Contei que estava em São Paulo e antes mesmo de começar a reclamar, falar que a cidade era chata, fria, louca... ele me disse: "meu, você precisar ir em uma bicicletada"!

Não fazia a menor idéia do que era aquilo. Ele me explicou bem por cima, pois tínhamos mil outros assuntos para "colocar em dia". Gravei o nome na cabeça. Cheguei em casa, corri para o Google e digitei "Bicicletada". Surgiu o http://www.bicicletada.org/! Descobri que era um grupo de pessoas que pedalam em São Paulo e se reúnem na última sexta feira do mês na Praça do Ciclista, em plena Av. Paulista com a Consolação, para reivindicar o espaço que é, por direito, também das bicicletas nas ruas e no trânsito da cidade.

Achei interessante. Era mês de junho e resolvi conhecer. A primeira angústia: Como eu, estabanada e assustada, chegaria de bike até a Av. Paulista?! Entrei na lista de e-mail da Bicicletada e descobri um "bonde" de ciclistas que sairiam do Butantã, pertinho de mim! E assim, consegui chegar, pela primeira vez, de bike, na Av. Paulista! E neste dia, ela parecia linda e cheia de calor humano. As pessoas faziam uma festa junina na Avenida mais movimentada - e fria - da cidade! Eram tantas bicicletas, tanta alegria, o calor humano misturado ao calor do vinho quente, muito quente, que prepararam ali mesmo... pela primeira vez eu sentia que eu estava gostando muito de estar em São Paulo.

Naquele dia, fui embora para casa pensando que havia achado o tipo de pessoas que eu gostaria de conviver... estava tão feliz que nem doeu o baita tombo que levei em plena Cardeal Arco Verde...

Enfim, foi aí que comecei a viver São Paulo e a fazer a minha São Paulo.

De pedaladas em pedaladas, descobri lugares, pessoas, sentimentos, aventuras... mudei o meu olhar para São Paulo (e acabei criando esse blog para tentar contar um pouco disso tudo por aqui)!

Na verdade, descobri que não existem cidades felizes ou infelizes. Aprendi que somos nós quem fazemos a nossa feliz cidade feliz!