sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Matando saudades... PEDALINAS

Já vai fazer um mês que eu voltei e ainda estou tentando colocar a vida no lugar. Também, é impossível voltar igual de uma viagem dessas!

Aos pouquinhos, também vou matando saudades dos amigos, dos lugares e dos movimentos das bicicletas pela cidade. Esse sábado será a vez de matar as saudades das Pedalinas: meninas de bike, experientes ou não, trocando idéias sobre o ser mulher pedalante em São Paulo. De quebra, ganhamos um dia lindo de pedal em boas companhias. Amanhã vai ter um piquenique depois da pedalada! ADORO!

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Os lares doces lares da viagem

Quando eu falo que a Alemanha tem uma infraestrutura maravilhosa para se viajar de bicicleta eu não falo apenas das ciclovias, das paisagens maravilhosas que só é possível conhecer a pé ou a bordo de uma bicicleta... mas eu falo também da qualidade das informações, inclusive para hospedagem.

Tá certo que passamos por um perrengue para achar um lugar para dormir na primeira noite. Mas nos dias seguintes foi tudo incrível. Não houve nenhum lugar que não tenhamos penado para achar um "zimmer frei" (cama livre). Muitos lugares fechados ou lotados. Mas em todos os lugares achamos pensões, bed and breakfast's ou hotéis muito aconchegantes, daqueles que dão vontade de ficar um dia a mais.

Nas livrarias de Berlim é muito fácil achar os guias das centenas de rotas para cicloturismo, com mapas, dicas de lugares para visitar e dormir - tudo em alemão, claro! Mas dá pra se virar muito bem com estes guias sem entender o idioma. Comprei o guia da nossa rota. Ajudou muito, pois nem sempre foi fácil achar as placas indicando a nossa rota pelo caminho. Varia conforme a região. Mas o bom é que nesse guia também há indicação de lugares para dormir, com opções para todos os gostos e bolsos em um programa denominado Bett und Bike ou Bed and Bike ou, simplesmente, Cama e Bicicleta!

E de pedaladas em pedaladas, campainhas em campainhas, achamos lugarzinhos super aconchegantes. Alguns com café da manhã, outros não... mas todos muito especiais e sempre com lugares seguros para guardarmos as nossas magrelas. Na Alemanha, inclusive, a preços muito simpáticos. A hospedagem mais cara custou 45 Euros para o casal. E foi num hotel delicioso, em uma antiga fábrica de alguma coisa onde hoje funciona um cinema, um restaurante delicioso e um hotel! Na Dinamarca os preços já ficam mais salgados, mas não podemos reclamar. Apesar de mais caros, na manhã seguinte sempre pegávamos a estrada felizes e descansados. Uma coisa primordial para o sucesso de uma cicloviagem!


Essa foi a casinha que ficamos em Fursthenberg/Havel, no segundo dia da viagem. Ficava no quintal da casa de uma senhorinha muito engraçada e que conseguia se comunicar conosco de um jeito perfeito! O quintal ainda era regado a macieiras e era cortado por um riozinho.
Manhã em Neustrelitz. Eu me alongando após uma noite muito gostosa no único hotel em que nos hospedamos na viagem
O quintal muito fofo da pensão mais aconchegante da viagem, em Waren/Muritz. Aqui ficamos em uma pensão chiquérrima. Era um mini apartamento hiper equipado e tudo muito lindo e arrumado. Nessa cidade as hospedagens eram caríssimas, pois é uma cidadezinha turística dentro do Parque Nacional de Muritz, cortada por um lago gigantesco que mais parece um mar e as pessoas vão para pescar e passear de barco, lanchas, etc e tal. Mas depois de procurarmos muito, achamos este lugar lindo. Os donos nos cobraram um preço simbólico de 40 Euros (pois devia valer muito mais) e entendemos - em alemão - que eles disseram que gostavam muito de ciclistas e por isso nos fariam um preço especial. No dia seguinte saímos muito cedo, mesmo assim tinha café da manhã nos esperando! Na hora de pagarmos pelo café - que não era incluso na diária - eles falaram que era presente, não precisávamos pagar nada! Toda essa mordomia graças às bicicletas!

Primeira noite na Dinamarca, em Sttubkobing, onde alugamos uma casa. Sim... uma casa alugada com o dono de um boteco muito animado - onde rolava um tornei barulhento de sinuca. Nesse dia deu até para fazer janta! Ah, chegamos no dono dessa casa graças a uns pescadores bebados muito engraçados que conhecemos na entrada da cidade. Eles nos deram cerveja dinamarquesa, bateram papo, contaram histórias divertidíssimas e ainda queriam que dormíssemos "na faixa" em um quartinho bagunçado no "QG" dos pescadores! Só não aceitamos porque estávamos muito cansados, queríamos tomar banho e dormir em uma cama de verdade! Mas ficou o contato e a amizade com os pescadores divertidos!

Na penúltima noite da viagem, dormimos nesse Bed and Breakfast em Faxe Ladeplads. Um casal de senhores muito fofo que nos hospedou e nos tratou como se fossemos filhos deles. A casa, chamada de "Casa Betula" ficava a uma quadra da praia e deu até para vermos o por do sol lá.


Quem quiser saber mais do Bett und Bike pode acessar o site do programa aqui.


terça-feira, 20 de outubro de 2009

Os alemães só falam alemão


Quem foi que disse que o inglês é língua universal?! Muita gente chegou a me perguntar se eu estava estudando alemão para ir à Alemanha. “Claro que não!”, eu respondia. “Vou me virar com o inglês”. E como resposta ainda recebia a afirmação de que com o inglês é fácil se virar lá na Europa.

Não é fácil. Pelo menos se você estiver na Alemanha. Os alemães falam alemão. Em Berlim ainda é mais fácil se virar com o inglês. Saiu de lá, esqueça. Se você não fala alemão, pegue o dicionário e comece a ensaiar algumas palavras de sobrevivência.


O duro foi descobrir isso no nosso primeiro dia de viagem. Além de encararmos chuva na maior parte do trajeto – aliás, o único dia de chuva! – e levar 40 km para achar a primeira placa indicando a nossa rota, descobrimos na primeira parada que a língua inglesa não é muito conhecido por lá. Dicionário na mão e em troca o nosso primeiro café quentinho com uma torta caseira na viagem. Começamos bem!


Uns 80 quilometros depois de ter saido de Berlim, sentimos que já estava na hora de parar. Cidade escolhida para dormir: Oranienburg. Uma cidadezinha aconchegante, cortada por um rio, com um castelo bem no meio da cidade e ares de interior. É lá também que está o campo de concentração nazista mais próximo da capital alemã, o Sachsenhausen, e o primeiro deles que visitamos. Sensação bem estranha e um silêncio absurdo e angustiante.


Depois da “experiência”, hora de procurar um lugar para dormir. Mapa e guias de pensões na mão, cara de dúvida e uma voz – em alemão – que parecia perguntar se precisávamos de ajuda. Uma senhora numa bicicleta e muitas flores na mão perguntava se precisavamos de alguma coisa. Mostramos no dicionário uma frase que dizia que procurávamos um lugar para dormir. Mostramos os endereços e ela pediu para que a seguíssemos. Seguimos, e confesso que com dificuldades. A senhorinha pedalava pra caramba! Primeira parada: pensão fechada. Segunda, também... terceira, quarta... tudo fechado! Entendemos que a nossa “guia” dizia que nessa época tudo já está fechado. Para nós ainda era final do verão, para eles, pelo visto, a empolgação da época mais quente do ano na Europa já havia acabado.


Por fim, fomos para num motel na beira da estrada. A senhora ainda conosco e mais um lugar fechado. Ela decidiu nos levar para casa dela. Ficamos confusos. Uma pessoa que nunca vimos na vida, que sequer falavca o mesmo idioma com a gente, dizia por meio de uma língua estranha e gestos que nós iríamos com ela. Mas, os donos do motel apareceram. Também não falavam inglês. Ela explicou a situação. Quase implorou e convenceu os donos do motel a nos hospedarem.

Assim foi a nossa primeira noite na rota Berlin-Copenhagen. Num motel fechado beirado por uma estrada e um rio e o primeiro anjo da viagem: Uma senhorinha que pedalava muito e que atendia pelo nome de Zarra (não sei se é assim que escreve, mas é assim que se pronuncia). Até agora fico me perguntando se ela era de verdade!

As fotos da aventura estão neste link.

sábado, 17 de outubro de 2009

A cidade que não precisa de Dia Mundial sem Carro

Quando planejei fazer a rota Berlin-Copenhagen nem me dei conta de que chegaria na capital Dinamarquesa exatamente no Dia Mundial sem Carro. Quando percebi, fiquei mais empolgada ainda. Fiquei imaginando quanta coisa bacana não deveria rolar por lá nesse dia. Critical mass, ruas interditadas para os carros... enfim... devia ser incrível.

Um pouco antes de embarcar para a Alemanha, comecei a pesquisar se existia algum site da massa crítica dinamarquesa. Nada! Achei alguns sites e blogs de grupos que pedalam por lá. Mandei e-mails e a resposta que recebi foi: "Copenhagen tem 500 mil ciclistas que pedalam diariamente pela cidade. Isso é uma tremenda massa crítica diária, não?! Nós não precisamos de Dia Mundial sem Carro!".

A resposta foi um tremendo balde de água fria ao mesmo tempo que pensei "poxa, essa cidade deve ser realmente genial para os ciclistas". Uma cidade onde 30% da população utiliza a bicicleta como meio de transporte, realmente, não deve precisar se mobilizar para o Dia Mundial sem Carro. Não deve precisar de massa crítica. Não deve ter que se preocupar com nada.

Ao longo da viagem pela Dinamarca, antes de chegarmos em Copenhagen, ouvimos muita gente dizer que lá era a cidade dos ciclistas, que as bicicletas ganharam tanto espaço, tantos recursos, que logo logo iriam criar uma massa crítica dos veículos motorizados, reinvidicando mais espaço para eles! Ficávamos imaginando o paraíso que devia ser aquele lugar!

E foi no dia 22 de setembro, por volta das 14h, que chegamos em Copenhagen. Sim, haviam muitas, muitas bicicletas. Ciclistas que pedalam rápidos e agressivos. Pedem para você sair da frente, se aglomeram nos semáforos exclusivos de bicicletas, causam congestionamentos nas ciclofaixas... uma verdadeira loucura. Ficamos assustados. Assustados porque a impressão que se tem é de que as bicicletas não foram a solução para o caos da cidade grande em Copenhagen. Elas fazem parte do caos. Muitos ciclistas até lembram os motoristas estressados de São Paulo.

Por falar em motoristas... também haviam muitos deles por lá. Muitas bicicletas e muitos carros. A população diz que há mais bicicletas do que carros na cidade. Mas ninguém nega que, ainda assim, há bastante veículos.

No final das contas, a conclusão que se chega é que Copenhagen é linda e um lugar incrível para se conhecer de bicicleta - mas esteja preparado para ouvir ciclistas estressados pedindo passagem. E ainda que o trânsito de bicicletas seja um tanto quanto caótico, ainda é infinitas vezes melhor do que o caos do trânsito de motorizados. Pedalar é maravilhoso em qualquer lugar e os moradores de Copenhagen se orgulham do "caos ciclístico" da cidade. Mas, uma coisa é certa: Copenhagen precisa, sim, de massa crítica e de um Dia Mundial sem Carro.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

De volta pra casa


A bandeira lá no alto parece ser para lembrar: "existe um país te esperando".

Mal chegamos em Copenhagen e ela já estava lá no alto. Ela, a bandeira do Brasil, parecia nos dar as boas vindas ao mesmo tempo em que parecia estar hasteada só para atiçar as saudades de casa. Perguntamos para o nosso amigo que nos hospedou se ele sabia o significado da bandeira brasileira tão grande hasteada em uma região bem central da capital dinamarquesa, mas ele nem havia reparado que ela estava lá. Seria uma miragem?

No último dia um funcionário da prefeitura - Rathaus em dinamarquês - nos explicou: na Dinamarca existe uma tradição de hastear em frente ao imóvel a bandeira do país de quem está hospedado naquele lugar. Quem seria o ilustre brasileiro hospedado ali?

Mais tarde, já em Munique, desconfiamos que poderia ser o presidente Lula e o "rei" Pelé. Já que na mesma época os dois já circulavam pelas bandas nórdicas à espera de um anúncio da cidade sede das Olimpíadas de 2016 - aliás, foi em Munique mesmo, ao receber os "Parabéns", que descobrimos que o Rio de Janeiro havia sido a cidade escolhida para sediar a tal Olimpíada.

Mas a verdade é essa: por todos os lugares onde passávamos alguma coisa nos fazia lembrar que havia um Brasil nos esperando. Um Brasil que não é organizado como os países em que passamos, onde as pessoas não são tão educadas e inteligentes como as deles, onde os motoristas não aguardam bem devagarinho atrás de você em sua bicicleta até surgir a oportunidade dele te ultrapassar a 3 metros e meio de distância... Mas, um Brasil onde apesar dos pesares as pessoas sorriem, onde há muito calor ambiente e humano, onde há muitas frutas, legumes e verduras a preços camaradas - porque falar "preço de banana" na Europa é o mesmo que falar preço de caviar com Champagne no Brasil - e onde há samba, arroz e feijão.

Calor. É calor que falta por lá. Calor humano, calor de vida e alegria. Eles são quase perfeitos, mas fiquei me perguntando porque é que eles não são felizes? Porque é que eles não sorriem?

O outono chegou e o frio veio junto com ele. Foi aí que um venezuelano ciclista no trem me explicou que na Europa as pessoas ficaram frias junto com o frio. Talvez seja essa a melhor explicação.

E foi por isso que apesar de todos os pesares brasileiros eu resolvi que o melhor mesmo é seguir a bandeira que vi hasteada no centrão de Copenhagen.


Já estou de volta, em casa.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Em Copenhagen

Foram 800 km de pedaladas. Mais de 55 horas girando o pedal. Dezenas de cidades, lugares, comidas, pessoas, paisagens, terrenos de asfalto, terra, pedra, rios, lagos e o mar... esse seria o resumo mais simples do que foi a rota Berlim-Copenhagen.

Já estamos em Copenhagen e a chegada foi uma mistura de alegria pela rota finalizada e vontade de dar meia volta e continuar pedalando - quem sabe Copenhagen-Berlim?!

No fim, temos muitas histórias e momentos acumulados... não dá nem para imaginar como relatar cada momento.

Por enquanto, deixo aqui algumas imagens da jornada! Agora, vamos curtir um dia de sol e muito vento por Copenhagen!


O início da rota em Berlim. Primeiro e único dia de chuva da viagem

Levamos 40 km para achar essa primeira placa, em Henningsdorf, onde a rota passa a ser sinalizada por placas

Reabastecendo após um longo dia de pedaladas!


E
Essa bandeirinha fez sucesso!

Caminhos surpreendentes

Muita água pelo caminho. Aqui, beirando o Mar Báltico, na Dinamarca

No topo... da felicidade!

Cada por do sol...

Chegamos!!!!!

Achamos a Pequena Sereia!

O que mais tem aqui é isso... pessoas andando de bicicleta. Dá até medo de ser atropelado por uma!!!


sábado, 5 de setembro de 2009

Ele, nós e a Alemanha


Ele chegou como um grande amigo e companheiro.

Nos conhecemos no Pedala Vai Vai. Batizamos as nossas bicicletas no mesmo dia e eu morri de rir do nome da bike dele: Kiabin! Ele ainda devorou o bolo de cenoura esfarelado que eu levei no piquenique no Parque da Juventude.

Na mesma semana ele me contou que tinha se candidatado a uma vaga no mesmo lugar onde eu trabalho e um pouquinho depois confirmou que estava indo trabalhar lá. Fiquei super feliz: uma bike a mais no bicicletário e um amigo ciclista para compartilhar o dia a dia ciclourbano!

Daí começou uma amizade regada a pedaladas, almoços, cervejas, sambas, Chico Buarque, feira de flores do Ceagesp, pastel de queijo repolho e gengibre, planos para o Caminho da Fé e outras cicloaventuras. De repente, quando vi, eu e ele já éramos nós e ficou impossível planejar qualquer coisa sem pensar em nós dois juntos vivendo aquilo.

E nós vivemos! Vivemos momentos incríveis, únicos e inesquecíceis. Pedaladas simples para achar uma pracinha escondida no meio da Paulicéia Desvairada, pedaladas intensas para chegar a uma cachoeira, pedaladas constantes para vivenciar mais uma cicloviagem... E de pedaladas em pedaladas, em pouco tempo nós já tínhamos uma história linda.

No meio dessa história tinha uma outra cicloviagem: a Alemanha, que foi a viagem que planejei no momento mais solitário que já passei. Não aquela solidão triste. Mas, aqueles momentos em que a gente precisa estar só para se conhecer melhor. E achei que fazer essa viagem sozinha seria uma baita experiência minha comigo mesma - e a bicicleta, claro! Só que depois que eu e ele viramos nós, ele já fazia parte de tudo, inclusive dos preparativos e planos dessa viagem. Mesmo sabendo que ele não estaria comigo lá, eu, de algum jeito, queria que ele fizesse parte de tudo, mesmo estando longe.

E quando faltavam só três semanas para a viagem e eu já trabalha a idéia de ficarmos um mês dividindo os nossos momentos à distância, eis que recebo a doce surpresa: "eu vou junto!". Mais uma vez eu e ele seremos nós: nós dois juntos na Alemanha, pedalando e colecionando mais quilometragens na nossa história.

Agora tudo está completo. Eu, a bicicleta, a viagem dos sonhos e ele - a pessoa mais linda e companheira que já conheci nos últimos 3.500 quilometros que pedalei desde o Pedala Vai Vai.



Na contagem regressiva

Os últimos meses foram puxados. Com a correria do dia a dia acabei nem terminando os posts sobre o Caminho da Fé, que agora vão esperar - ainda esse ano quero voltar e terminá-lo e, quem sabe, com isso também terminar os posts aqui no blog.

Mas, agora, minha cabeça e minhas pernas estão na contagem regressiva para outro pedal: a Alemanha.

Toda essa história começou em novembro do ano passado. Fui a uma reunião sobre ecoturismo na Câmara Brasil-Alemanha. No final da reunião, conversando com alguns alemães que estavam lá comentei que usava a bicicleta para me locomover pela cidade e eles, de pronto, responderam: "Ah, mas então você precisa conhecer a Alemanha. Lá todo mundo anda de bicicleta". É claro que eu queria conhecer a Alemanha, mas nunca tinha cogitado a possibilidade de passar as férias lá. Aliás, ainda nem tinha cogitado a possibilidade de, algum dia, tirar férias (!).

Saí de lá com a indicação de um site: o Germany Tourism

Trabalhei o resto do dia e somente tarde da noite, antes de voltar para casa, acessei o site indicado. Lá tem um link chamado Cycling Experience e foi então que descobri que a Alemanha tem mais de 200 rotas de cicloturismo em 70 mil quilometros de vias exclusivas para as bicicletas - Sim! Isso mesmo! 70 mil km!!!

São roteiros passando por cidades, montanhas, castelos, rios, lagos, praias... tem para todos os gostos - desde famílias com crianças pequenas até os mais aventureiros.

Fiquei fascinada! Vi que algumas rotas eram internacionais, ligando a Alemanha aos países vizinhos por vias cicláveis. Na hora pensei "quero fazer uma viagem dessas!". A primeira coisa foi, pela primeira vez, olhar o calendário para ver quando seria a melhor época para entrar de férias. Calculei, calculei.... e concluí que setembro seria uma boa época, tanto para deixar tudo (des)ajeitado no trabalho e para juntar uma grana que desse para bancar a viagem.

Aí foi a hora de pesquisar a passagem. O dólar estava super lá em cima e os preços das passagens lá no alto com ele também. Mas, no mesmo dia, achei uma passagem com um preço simpático - e possível de pagar. Liguei para o meu pai falando da minha idéia e pedindo que ele comprasse a passagem pra mim, já que meu cartão nem tinha limite para isso. Ele falou que no dia seguinte daria uma olhada nisso. Pensei "tudo bem, aí tenho até amanhã pra ver se é isso mesmo que eu quero"!.

Voltei pra casa. Quando estava prendendo a minha bike no prédio, meu celular tocou. Era meu pai, dizendo: "acabei de comprar a sua passagem, agora é só se organizar e programar tudo direitinho. Não tem mais volta!!!!"

Não acreditava! Em menos de 12h - entre a reunião e a passagem comprada - consegui decidir que passaria as minhas férias pedalando na Alemanha... parecia loucura. Mas, era verdade!

E o tempo passou...

Nessa quarta feira, dia 09 de setembro, embarco para a Alemanha. Chego em Berlim no dia seguinte, compro minha bike e no dia 13 começo a pedalar na rota Berlin-Copenhagen. Em 10 dias vou pedalar 630 km da capital alemã até a capital dinamarquesa. Depois ainda passo pela Holanda - num intermodal bike-trem - volto para a Alemanha e ainda visito uma amiga na Romênia antes de voltar para o Brasil.

Foram 10 meses se programando e agora estou aqui... na contagem regressiva.

Vou registrando tudo por aqui. E prometo não demorar tanto, como foi com o Caminho da Fé!

sábado, 18 de julho de 2009

O começo do Caminho: Águas da Prata – Andradas

Foto: JP Amaral


A programação inicial era a seguinte: acordar às 6h30, sair às 7h, tomar café da manhã e seguir o nosso rumo cicloperegrino. A primeira parada oficial e para carimbar a credencial seria em Andradas, a 34 km do ponto de partida. Na sequencia, planejamos seguir para a Serra dos Lima, 14 km adiante, onde passaríamos a noite numa pousadinha/sítio no meio do nada. O total do dia seria 48 km. Nada que pareça difícil para dois ciclistas que falam com orgulho que já pedalaram, em um dia, 160 km até Piracicaba, 100 km até Sorocaba, blá, blá, blá.

Bom, quem observar o tempo verbal do parágrafo anterior, vai ver que ficamos no “seria”. O Caminho da Fé não é a Rodovia Castelo Branco. Totalmente o contrário. Encarar esse caminho significa pegar estradas de terra 99% do tempo, ladeiras – muitas ladeiras -, pedras soltas, descidas assustadoras – daquelas que a gente desce apertando tanto o freio que chegamos a pedalar mais rápido na subida que na descida -, e esperar surpresas no Caminho, que não foram poucas.

O horário de acordar e tomar café da manhã foi dentro do esperado. Na porta do mercadinho/padaria ainda encontramos os peregrinos de Rio Claro que haviam dormido com a gente na Pousada. Tiramos fotos, desejamos sorte e ficamos na expectativa de encontrá-los durante o trajeto.

Tudo arrumado. Barriga cheia. Pneus calibrados. Simbora! Chegara o tão esperado momento: o Caminho da Fé. Mal começamos a pedalar, já ouvimos a voz alta de dentro de um carro: “vão fazer o Caminho da Fé?”. Confirmamos e descobrimos: “vocês estão indo pelo caminho errado!”. Volta, conversa um pouco com o primeiro anjo da viagem, ouve um pouco de histórias – “já fiz o Caminho quatro vezes. Duas vezes de bike, uma de carro e outra de moto”. E qual você gostou mais, perguntei. “De bike, claro. Dá para curtir a paisagem melhor”!

Agradecidos eternamente, entramos no lugar certo e – bem vindo, você está no Caminho da Fé – LADEIRA! Pedalamos animados. Naquele gás de quem acabou de ganhar bicicleta nova e quer testar até onde ela chega. Mal terminamos a primeira subida, já veio outra. Bora pedalar! De repente, reaparece o carro do nosso “anjo”, que buzina e grita: “guarda energia para mais lá na frente”. Aff... eu estava na pilha, você acha que ia faltar energia?!!

E faltou. Na quarta subida já estava empurrando a magrela. Até porque, dou um prêmio para quem conseguir encarar muitas delas no pedal. São verdadeiras paredes, com muitas e muitas pedras. Mas, vergonha nenhuma empurrar. Até porque não tínhamos pressa, eram “só” 48 km e ainda queríamos parar nas cachoeiras e paisagens bonitas pelo caminho. Sossego total!

Até que, após mais de 20 km pedalados, passamos pelo Pico do Gavião. Logo depois dele, entramos numa estradinha que a terra some e no chão só se vê pedras. Grandes e soltas. Era uma descida e entramos com tudo. O “sound system” do João começou a tremer e ameaçar cair. Ele parou para arrumar. Eu segui em frente. A bike tremendo e o medo de frear e capotar da magrela. Nem foi preciso. As pedras frearam ela por mim. Voei da Serafina e cai nas pedras. Dor na mão, na perna e no braço. Levantei, olhei o estrago. Com a bike tudo bem. Comigo... o braço esfoladésimo! Sangrando bastante. Medo da viagem acabar por ali.

Lá do alto apareceu o João. Mostrei o estrago. Ele me consolou com um queijo nozinho, que ajudou a manter a pressão de pé. Seguimos empurrando. Descer em cima da bike naquelas pedras era tentativa de suicídio. Minha mão direita inchou um pouco, por isso doía segurar o freio para a bike não disparar ladeira de pedra abaixo. A perna, eu nem queria olhar. Doía à beça.

Quando acabou a descida, a nossa água também estava no fim e as setas amarelas tinham sumido. E pra melhorar, estávamos num trecho interditado para carros, pois estão instalando dutos por lá. Ou seja, não ia aparecer ninguém para nos falar que estávamos no caminho errado. Preocupação! Já pensou se estivéssemos perdidos, sem água e eu toda esfolada?!! Quando já estava pensando em começar a ficar nervosa: um sítiozinho. Paramos e perguntamos: “o Caminho da Fé é por aqui”. Resposta afirmativa. UFA! Alívio. E a pergunta salvadora do dono do sítio: “precisam de alguma coisa?!”. De águaaaaaaa! Ganhamos água geladinha, conversa e frases de apoio como “vocês estão pertinho”. Pedalando, em 20 minutos, no máximo, estão em Andradas.

Então, bora pedalar novamente. Com dores e dificuldades, mas estávamos perto da cidade. Eu poderia fazer um curativo, relaxar um pouco e seguir nos 14 km que faltavam. Mas, 5 minutos depois de voltar a girar o pedal, uma freada e um barulho. Pronto, a roda da Kiabin tinha entortado de um jeito absurdo. Paramos para mexer. O negócio foi feio. O João conseguiu, ao menos, soltar um pouco a roda para que ela girasse e conseguíssemos chegar em Andradas empurrando as magrelas.

Nossa expressão era de desânimo, cansaço, medo de não conseguir seguir adiante. A sorte é que tínhamos conosco o guia do Olinto, sobre o Caminho da Fé para ciclistas, e lá ele indica as bicicletarias das cidades por onde passaríamos. Decidimos, então, que chegando em Andradas iríamos direito para a bicicletaria indicada. Enquanto arrumavam as bikes, eu poderia fazer um curativo em alguma farmácia e, claro, arranjar uma pousada para descansar. Não conseguiríamos chegar até onde tínhamos proposto para o primeiro dia.

A primeira sensação era de frustração. Mas, enquanto empurrávamos as bicicletas, apareceu o terceiro anjo da viagem, o Antônio. Um ciclista de São Paulo que gosta de pedalar sozinho e já fez o Caminho da Fé várias vezes. Aliás, foi o único ciclista que “botamos fé”! Que assim como nós, carregava sua bagagem e estava sem carro de apoio. Os outros que encontramos ao longo dos dias eram pessoas ótimas e cheias de força de vontade. Mas todos com suas roupinhas de lycra, power gel – que vimos um ciclista de Campinas jogar a embalagem no chão! – e carro de apoio, para levar as bagagens e apetrechos.

O Antônio foi conversando conosco, dando dicas, contando histórias e nos fazendo entender que a situação pela qual estávamos passando era apenas um pedacinho do que é o Caminho da Fé. Fomos nos animando e entrando no clima novamente, pensando que, realmente, a gente estava sentindo na pele o que era encarar esta cicloperegrinação. E não adiantava esperar moleza!

Assim, chegamos em Andradas, lá pelas 14h30 e empurrando as bicicletas. Achamos a bicicletaria, onde o João conseguiu bater um super rolo e adquirir rodas semi novas - mil vezes melhor que as que ele esta usando – e ainda revisaram a minha bike. Com R$10 faturei a revisão e um par de pastilhas novas no freio, que a essa altura do campeonato já tinham ido pro beleléu.

Achei uma farmácia, fiz os curativos e nos hospedamos em uma das pousadinhas credenciadas. A frustração por não termos pedalado nem 30 km (já que empurramos as bikes uma boa parte do trajeto) foi substituída por uma tarde agradável em uma cidade acolhedora. Tomamos sorvete, demos um role pela cidadezinha, fizemos amizades com duas cachorras numa praça, batemos papo com alguns moradores, reencontramos os peregrinos que saíram de Águas da Prata com a gente, demos risada das placas e nomes dos estabelecimentos, jantamos, e até experimentamos o “famoso” vinho andradense.

No dia seguinte nosso plano era chegar até Inconfidentes. Mas, agora, já começávamos a entender o que era o Caminho da Fé. A gente não sabia o que nos esperava logo mais. Então a decisão mais sábia foi viver o Caminho e deixar as coisas acontecerem como tivessem que acontecer. E valeu muito a pena!


Fotos e vídeos AQUI

quinta-feira, 16 de julho de 2009

A chegada na nascente do Caminho: Águas da Prata

Foto: JP Amaral

O Caminho da Fé nasceu em 2003, fruto da idéia e vontade de um grupo de amigos que já havia feito a trilha de Santiago de Compostela algumas vezes e queriam trazer algo semelhante ao Brasil: o país mais católico do mundo. O ponto de partida da peregrinação era a cidade de Águas da Prata – terra natal dos criadores do trajeto - rumo a Aparecida do Norte.


Com o tempo a rota foi se ampliando e surgiram os chamados “ramais”. Os pontos de partida, então, se multiplicaram. Hoje os extremos do Caminho estão nas cidades de São Carlos, Mococa, Cravinhos e Tambaú (veja o mapa). Claro que é possível escolher sair de qualquer uma das cidades, mas para quem tem tempo suficiente para fazer o traçado inteiro, talvez valha a pena sair de um dos extremos.


Como só tínhamos quatro dias e queríamos aproveitar a maior parte do tempo no sul de Minas Gerais, decidimos sair do ponto original, em Águas da Prata. Lá tem a sede do Caminho da Fé, onde já podemos comprar a nossa “Credencial de Peregrino” que vamos carimbando ao longo do trajeto, nos lugares indicados que vamos passando.


Pegamos o ônibus para Águas na quarta a tarde. Tínhamos que chegar na Pousada do Peregrino antes das 20h, pois depois disso eles fecham a casa e não teria ninguém para nos receber.

Nos programamos para sair com folga. No caminho até o terminal Tietê já fomos ensaiando a chorada que teríamos que dar no pessoal da Cometa para convencê-los a despacharmos as bicicletas no ônibus sem estarem em alguma caixa ou embrulhadas em plástico. Mas o milagre já começou ali. Os funcionários foram super solícitos e até reservaram um bagageiro só para as magrelas. Serviço CicloVIP!


Na saída do terminal, adivinhem: trânsito, muito trânsito. A primeira parada foi na cidade de Campinas. O ônibus parou, ficou parado, espera, espera, espera até o motorista anunciar: “ônibus quebrado, vamos trocar de carro”! Descemos do busão e os funcionários já estavam transferindo as bicicletas para o outro ônibus. Trocamos idéias rapidinho, entramos no novo “carro” e seguimos adiante. No caminho muitas paradas e a hora passando no relógio. Na última cidade antes de Águas, São João da Boa Vista, achei que não chegaríamos a tempo. Liguei para avisar e uma moça muito fofa falou que nos esperava.


Por fim, chegamos lá ás 19h55! Da rodoviária já avistamos a primeira seta amarela, que seria o nosso “símbolo-guia” durante todo o Caminho. Nos instalamos na Pousada, que é uma casa onde funciona a sede do Caminho da Fé e há beliches, cozinha e banheiro disponíveis para os peregrinos. Lá já conhecemos um grupo de peregrinos de Rio Claro que também começariam o Caminho, só que a pé, no mesmo dia que a gente. Muitas expectativas e ansiedade.


Antes de descansarmos para começar a jornada, passeamos um pouco pela cidadezinha, que é linda! Lanchamos num boteco e fizemos amizade com um cachorro, que apelidamos de Tadeu. E alguma coisa me diz que esse apelido pegou!!!


O Tadeu nos seguiu até a porta da Pousada. Nos despedimos dele com vontade de levá-lo conosco. Já pensou, um cachorro peregrino?!

Primeira amizade e despedida da viagem!


Algo me diz que se um dia voltarmos para Águas o Tadeu estará lá, atendendo pelo nome que o batizamos. Quando o Caminho da Fé está por trás dos acontecimentos, é possível acreditar em tudo!

Fotos e vídeos AQUI

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Com fé pelo caminho

Foto: JP Amaral


"Vamos virar o ano virando o pedal no Caminho da Fé?"

Esse foi o convite que recebi do meu querido amigo Toni no final do ano passado. A proposta já era tentadora só pela idéia de passar a virada do ano pedalando. Mas, afinal de contas, o que era esse tal de Caminho da Fé?!!

Já tinha ouvido um pouco sobre ele. Sabia que era uma versão brasileira de Santiago de Compostela, onde era possível peregrinar até Aparecida do Norte. Mas, não sabia como funcionava, por onde passava e nem como era possível um ciclista, de repente, virar um peregrino, ou algo assim!

Comecei a pesquisar. Assisti o vídeo do CicloBr e comecei a fuçar no site do Caminho da Fé. Me encantei. Tomei aquilo como um desafio. Encarar aquelas estradas de terra, aquelas ladeiras sem fim, conhecer aquelas pessoas humildes que convivem diariamente com cenários vislumbrantes e uma fé inacreditável. Mas, ainda com receio se aguentaria, se eu tinha uma bike boa para isso e ainda com a proposta de conhecer a Chapada dos Veadeiros, em Goiás, acabei optando pelo caminho mais fácil, peguei um avião, fui para Brasília e depois para a Chapada. O Caminho da Fé podia esperar.

Já comecei 2009 planejando. Escolhi o feriado de Corpus Christi , em junho, para encarar o trajeto. Com isso teria tempo para me organizar, achar ciclistas interessados em ir comigo e treinar um pouquinho mais - já de olho, também, na cicloviagem alemã, em setembro. Nesse meio tempo pesquisei mais, conversei com muitas pessoas, que já fizeram o Caminho ou que planejam fazê-lo, fiz propaganda, falei dos meus planos, convidei muita gente, mas a única pessoa que desde o dia que a conheci falou que iria com certeza absoluta foi o João, mais conhecido como JP!

Conheci esse garoto em fevereiro, no dia do batizado das bicicletas e piquenique no Parque da Juventude. Desde então, ele passou a pesquisar tanto quanto eu e muitas vezes me vi empolgada com a idéia dessa cicloviagem (ou seria ciclodesafio?!) graças à empolgação dele. Outras pessoas ficaram no "talvez eu vá", mas nunca confirmaram. Mas não tinha problema! Eu estava decidida a ir, nem que fosse sozinha - mas no fundo ficava aliviada com a certeza de saber que teria a companhia do João!

Por fim, adiamos a ida no Corpus Christi. Já estávamos preparados, com as bikes revisadas, pneus trocados - do slick para o cravo de montain bike -, ferramentas a postos e muita ansiedade. Mas, na última hora, a vontade de estar com a família falou mais alto e acabamos adiando para o feriado do mês seguinte, em julho, somente no estado de São Paulo - 09 de julho, Revolução Constitucionalista.

E esse foi o dia que comecei a, enfim, girar o pedal no Caminho da Fé. E se o feriado tem o nome de Revolução, posso dizer que foi também uma verdadeira revolução na minha vida. Foram dias maravilhosos de conhecimento pessoal, força, garra e - porque não?! - fé. Foram quatro dias de pedaladas intensas, passando por lugares maravilhosos, cenários únicos que fazem o cansaço, o sufoco, o suor e - no meu caso - os tombos, valerem a pena. Além disso, fazer o Caminho da Fé é se permitir conhecer um pedaço de Brasil intocado. Intocado nas belezas, nas bondades no coração das pessoas, nos sorrisos, nos pequenos gestos, nas maneira simples de se viver.

Nos próximos dias vou postar relatos sobre cada dia de pedalada e outras histórias interessantes. Mas tenho certeza que não existem palavras nesse universo para expressar o que sentimos quando estamos lá. É como o Toni me definiu quando voltou de lá, no começo do ano: "é preciso viver o Caminho da Fé para entender o que ele significa".

As palavras possíveis ficarão aqui no blog.
As imagens e vídeos registrados pela câmera ficarão no Picasa do João.
As lembraças já estão eternizadas na memória e no coração!

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Bicicletada Junina

Hoje é o dia da Bicicletada mais especial do ano. É o dia em que o frio da avenida mais famosa do pais é substituído pelo calor mais humano da cidade. Chegou o dia da Bicicletada Junina!

Minha bicicleta já está cheia de girassóis, meu cestinho já está pronto para carregar o correio elegante, meu chapéu de caipira já está na mochila, para celebrar mais um momento de humanizar o trânsito. Além disso, essa Bicicletada tem gostinho especial, pois faz ano que eu apereci por lá e mudei minha vida completamente!

Depois daquele dia, conheci a s pessoas mais maravilhosas, a São Paulo mais interessante, as alegrias e sensações mais únicas da vida! Vale a pena aparecer e sentir tudo isso.

Haverá quentão e quitutes juninos, bandeirinha e, quem sabe, música!

Apareçam - com ou sem bike!

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Cicloamigos

Pedalar também é sinônimo de relacionamento humano. Não sei se é pelo fato de não ficarmos parados, enlouquecidos e em fúria no trânsito, ou se é porque não temos barreiras, portas e vidros nos separando das pessoas e do ambiente ao redor. Mas, já faz tempo que reparo que as pessoas que pedalam são bem mais felizes, prestativas e confiantes. Ao ponto de que não tenho receio em viajar, receber na minha casa, interagir com pessoas que acabei de conhecer em uma pedalada. A bicicleta afasta muitos medos.

Claro que, ao nos abrirmos dessa maneira para vivermos, corremos um sério risco de descobrirmos novos amigos. E comigo foi assim: desde que comecei a pedalar em São Paulo (já faz um ano!) conheci pessoas tão incríveis que hoje considero grandes amigos.

Agora, desde que comecei com essa idéia de pedalar na Alemanha, passei a trocar e-mails com muitas pessoas que já tiveram experiências parecidas com a que vou ter – ou muito mais intensas -, e que me dão dicas fundamentais para eu me preparar para a viagem. São pessoas que eu nunca vi na vida, mas que se colocam à disposição para ajudar, tirar as dúvidas mais bobas e torcer junto comigo para que tudo seja o mais lindo e inesquecível possível.

O legal disso tudo é quando estes clicoamigos virtuais ganham rostos. A primeira ciclo-amiga-de-dicas-por-e-mail que conheci foi a Pequena Lou. E a conheci de um jeito bem por acaso. Eu estava de bike em uma festa de rua no Campo Belo e ela chegou até mim e perguntou “você não é a Evelyn?”. Confirmei e já questionei também: “e você é a Lou, né?!”. Fui embora dali feliz da vida por ter dado um rosto para essa garota que já me ajudava sem sequer me conhecer e ainda me inspira com uns posts excelentes no blog dela.

Essa semana foi a vez do Dudu Green, do Ciclonômade. Trocávamos e-mails há um bom tempo e ele foi uma das pessoas que me deu as dicas mais legais de viagens de bike mundo a fora. Na época ele estava na Nova Zelândia e eu sabia que ele voltaria por meados de junho. Mas, como um bom ciclonômade que ele é, ele dava uma notícia e sumia por um tempão. Até que fui almoçar com alguns cicloamigos essa semana e dou de cara com quem?! Com ele. Meu cicloamigonômade que ganhou um rosto e companhia para pedalar por São Paulo. Hoje, por exemplo, pedalamos até a Zona Cerealista – outro ponto interessantíssimo da cidade – e já pensamos em outros roles pela cidade, para, de certa forma, eu agradecer as dicas valiosas que ele já me deu!

A verdade é que se não fosse por essas cicloamizades, talvez eu nem teria me animado tanto em pedalar pela cidade. Essa galera é inspiradora e faz a gente acreditar que é possível viver em uma cidade mais humana. Que em São Paulo existe, sim, seres humanos!

Por falar em (ser) humano. Um vídeo maravilhoso que me enviaram esta semana:

AQUI

Continua AQUI

quarta-feira, 27 de maio de 2009

As Pedalinas


A gente trabalha, estuda, passeia, se diverte, se cansa, viaja, conversa e, claro, pedala. Todos os dias, algumas vezes por semana, uma vez por mês ou uma por ano. Com roupa de ginástica, de ciclista, de saia, chinelo ou salto alto. Vegetarianas, carnívoras, veganas. De todas as raças, credos, gostos e opiniões. Estilos bem diferentes e variados. Em comum, ela: a bicicleta, e nós: as Pedalinas!

As Pedalinas surgiram após a indicação, na lista de e-mails da Bicicletada, de um site de um grupo de meninas chamado
Fix Withot Dix, que se reunem para pedalar e se divertir juntas em Portland e East Bay, nos EUA. Achamos interessante e fizemos o primeiro encontro no dia 10 de maio para tentar criar algo parecido.

Foi daí que nasceu as Pedalinas. Formado para incentivar as meninas a pedalarem pelas ruas de São Paulo. A idéia do encontros é fazer passeios leves, com bate-papos e trocas de experiências entre meninas que já pedalam e outras que querem dar os primeiros giro no pedal pela cidade.

Já no primeiro encontro, logo de cara, descobrimos como pedalar na cidade ainda é muito associado à imagem masculina e como ainda dependemos dos meninos para nos deslocarmos - erramos o caminho indo da Av. Paulista até o Parque Ibirapuera - e para a mecânica básica da bike - quase sempre tem um ciclista fofo por perto para remendar os pneus furados das nossas bicicletas!

Agora, queremos aprender a nos virar sozinhas e mostrar que pedalar é, sim!, coisa também de menina. De todas as meninas! Unindo nossas histórias, vontades e conhecimentos vamos ver muita garota criando coragem e saindo por aí com as magrelas! Será a invasão das meninas de bicicletas: as Pedalinas!

Os encontros acontecerão todo o segundo domingo do mês, com concentração à 11h na
Praça d@ Ciclista.
A idéia é sempre seguirmos para algum parque - onde podemos fazer um piquenique -, alguma exposição, mostra e, até mesmo, curtirmos juntas um almoço em algum restaurante bacana e amigo das ciclistas!

Dia 14 de junho já terá encontro das Pedalinas! Apareçam!

Conheça melhor as Pedalinas
aqui.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Convite: Bicicletada da Zona Norte

NÃO SOU DA ZN, MAS EU SEI QUE EU VOU!!!
Viva a integração entre as zonas!!

Inspirados na
Bicicletada de São Paulo, que acontece na última sexta-feira de cada mês na Av. Paulista, estamos promovendo uma bicicletada regional na Zona Norte.

Horário diferenciado e o percurso sem ladeiras são ideais para iniciantes que desejem arriscar seu primeiro pedal urbano de baixa velocidade (
Sugestão de Roteiro).

Leve um lanche para curtirmos um piquenique no parque.

Aqui as crianças também poderão se divertir. Leve patins, skate, bicicletinhas, peteca e tudo o que sua imaginação permitir.

É a primeira bicicletada na Zona Norte, contamos com a sua alegria para que seja a primeira de muitas!

Convide família e amigos.
Esperamos por vocês.

terça-feira, 19 de maio de 2009

Como falar de 160 km em um único post?!

Foto: JP Amaral


Acordar às 4h30 da manhã, tomar um super café, arrumar as coisas na bike e partir para uma cicloviagem de 160 km. Será que é possível relatar tudo isso em um único post?! Tenho certeza que não. Aliás, tenho certeza que para muitas impressões e sensações dessa viagem não existem, sequer, palavras. Cada cicloviagem, cada novo desafio, é uma nova pessoa que volta para São Paulo. Viajar sobre uma bicicleta é se renovar.

Os momentos sozinhos na estrada te fazem refletir sobre a vida e coisas que costumam nem passar pela cabeça. As companhias da pedalada sensibilizam o seu olhar para conhecer pessoas que se fazem especiais pelos detalhes mais simples do jeito de viver. O vento hora suave, hora muito forte que bate no rosto te ensina a ter uma relação diferente com a velocidade das coisas. O cheiro hora de mato, hora de fumaça te mostra como os contrastes estão tão próximos. A dor física brigando com a emoção de viver tudo isso te mostra como o nosso corpo é capaz de ir muito além do que imaginamos...

Foi um pouco de tudo isso que senti – e vivi – nessa experiência até Piracicaba

- 12 ciclistas bem diferentes no jeito de ser, mas todos muito especiais na maneira de viver.
- Uma Rodovia dos Bandeirantes muito mais difícil do que eu imaginava.
- A batata cozida e a granola são os melhores combustíveis para uma longa pedalada.
- Pedalar sozinho na estrada pode ser perigoso, mas ter amigos por perto é a chance de um resgate emocionante da bicicleta – e um ensinamento de que é bom pedalarmos unidos, e próximos!
- Pedalar na estrada assistindo ao por do sol é único.
- Pegar a rodovia Luiz de Queiroz a noite foi amedrontador e cansativo, mas chegar no topo da última subida e avistar Piracicaba toda iluminada foi emocionante e inacreditável.
- Piracicaba continua linda e conhecê-la de bicicleta é admirar ainda mais as belezas e os detalhes únicos desta cidade.
- Deu vontade de ficar...

Acho que Cada tópico vai ter que virar um post. Ainda assim, acho que não vai caber estes 160 km neste blog.

Relatos:
Ecourbana

Fotos:
JP Amaral
Pedalante

Os 12 ciclistas a caminho de Piracicaba


Célia – a idealizadora
A idealizadora da viagem. Piracicabana que pedala pelas ruas de São Paulo sem perder o ar e a graça de quem pedala às margens do Rio Piracicaba. Foi a vítima do “seqüestro relâmpago” da bicicleta na estrada, e mesmo assim não perdeu o animo e a força para continuar os 70 km restantes do pedal. Na chegada em Pira, a família dela nos recebeu com bolo e champagne, bem no estilo receptivo e simpático do piracicabano e que a Célia expressa muito bem como é que é.

Lincoln – o herói
A primeira impressão que se tem dele é de uma pessoa que pedala com sangue quente. Mas na verdade, ele pedala disposto a ajudar qualquer ciclista que esteja em apuros. Por isso, virou o herói da viagem, quando atravessou a rodovia e foi atrás do seqüestrador da bicicleta da Célia. Garantiu a bike de volta, a continuação feliz da viagem e o título de nosso herói.

Gatti – o palhaço
Pedalar ao lado do Gatti é garantia de ótimas risadas. Aliás, é difícil saber quando ele está sendo palhaço de verdade ou de mentirinha. No fim, o que se descobre, é que ele tem alma de palhaço e nasceu para fazer as pessoas sorrirem. Ele é tão divertido, tão divertido, que é possível pedalar ao lado dele num ritmo forte sem perceber que estamos tão forte. A hora que a gente percebe o pessoal lá atrás já sumiu, a gente para, espera, e se diverte com as graças do nosso querido ciclista-palhaço.

JP – o carregador de alegrias
A Kiabin, nome da bike do JP, é que nem coração de mãe: sempre cabe mais um. Aliás, sempre cabe mais alguma tralha no imenso caixote que ela carrega no bagageiro. Mas se a Kiabin tem coração de mãe, o que falar do coração do dono dela? O João, mais conhecido como JP?! Ele pedala forte carregando uns 20 quilos no bagageiro. Tudo o que a gente não agüenta carregar ou não cabe na mochila, o JP carrega com ele sem reclamar. Quem pedala ao lado dele ganha, de brinde, uma excelente trilha sonora para a viagem além de momentos de muita alegria - que deve ser o segredo para ele carregar tanto peso sempre sorrindo, cantando e sem reclamar.

Laércio – o zen
O que eu mais admiro no Laércio é que ele pedala, pedala, pedala e continua com a mesma expressão, o mesmo tom de voz, a mesma serenidade. Ele já deve ter nascido pedalando, ao ponto que o ato de girar o pedal parece natural para ele. Ano passado ele sofreu um acidente e ficou um bom tempinho sem pedalar. O tempo suficiente para deixar muitas saudades. Por isso, pedalar novamente com ele é muito bom. É bom ter esse amigo zen pedalando com a gente de volta. Ah, e a Anita, nome da bike dele, registrou o único pneu furado de toda a viagem – só para não perder o costume, né Anita?!

Sarinha – a guerreira
A Sarinha entrou na estrada sem saber se agüentava pedalar até o próximo quilometro. Ela nunca havia entrado na estrada com a magrela, ela mora longe pra dedéu e teve que virar a noite em claro para conseguir chegar às 6h na Praça do Ciclista, ela estava com o joelho machucado, e mesmo assim aceitou o desafio. Nitidamente ela sofreu. Mas sofreu como uma guerreira determinada a ir até o final custasse o que custasse. E ela chegou, com a ajuda dos meninos-anjos da bicicleta, mas chegou. E voltou para São Paulo determinada a pedalar cada vez mais e viver novas cicloviagens.

Gláucia – a surpreendente
Eu não conhecia a Gláucia, Quando a vi na Praça do Ciclista pronta para encarar esta viagem, fiquei me perguntando se essa menina meiga e tranqüila realmente tinha noção da longa viagem que teríamos pela frente. Não sei se ela tinha noção, mas que ela agüentou firme, isso ela agüentou. E isso é o mais legal em pedalar com ela. Pois você chega a achar que ela é frágil demais para agüentar, e acaba vendo que ali existe uma ciclista surpreendente.

Lucas – o doido
O Lucas pedala como um doido. Do nada ele dispara e some. Some da vista de todo mundo, deixando a gente até preocupado. Quando fazemos a pausa para o descanso nos locais combinados, lá está ele, sossegado, tranqüilo, com a sua Caloi 10 de 1970, comendo algum lanche sinistro como pão com manteiga e bacon! Na última parada da viagem, chegamos lá e ele tinha acabado de “traçar” uma leitoa a pururuca. E ainda sobrou disposição para pedalar mais 40 km de muitas subidas e escuridão.

Giba – o amigão
O Giba é daqueles caras que não tem tempo ruim. Tudo parece estar sempre muito bom para ele – mesmo quando ele cai e abre o queixo, como em Sorocaba. Ele é daqueles amigões que pedalam do seu lado batendo um papo tranqüilo, te dá um empurrãozinho, conta uma história, te incentiva, empresta a bicicleta para você ir ao banco... Ele é tão alto astral que me arrisco a dizer que se alguém nessa viagem tinha pique para voltar pedalando, esse alguém era o Giba. Tenho certeza que ele não ia reclamar.

PC – o silencioso

Em toda a viagem devo ter ouvido a voz do PC umas três vezes. Não sei se é porque não pedalamos muito próximos ou porque ele é silencioso mesmo. Mas ele é tão quieto que é impossível de saber se em algum momento ele se cansou, ele queria parar, se estava curtindo... Em Piracicaba ele nem parecia cansado. Parecia o mesmo que 13 horas antes chegou na Praça do Ciclista se apresentando como “PC”. Talvez ele goste de pedalar como a própria bicicleta: no silêncio.

Guilherme – o emocionado
Pedalar ao lado do Guilherme é ouvir de 5 em 5 minutos um “que lindo!”, “que emocionante”, “que gostoso”... ele se emociona com tudo. Com o som, com o vento, com o sol, com o frio, com uma árvore, com uma paisagem... Essa foi a primeira cicloviagem dele e ele encarou como alguém que está descobrindo o mundo. Cada giro no pedal parecia uma nova descoberta para ele. No final da viagem ele era a alegria em pessoa. Emocionado com cada momento. Tenho certeza que essa foi a primeira grande experiência das muitas que ele terá a bordo de uma bicicleta.

Evelyn – a feliz
Feliz por ter vivido momentos tão lindos com pessoas tão especiais. Pedalar é tão humano, que nos permite se abrir para conhecer pessoas, histórias, lugares que complementam os momentos e fazem do ciclista que você conheceu há algumas horas atrás parecer um velho amigo de infância. Daria a volta ao mundo com essa galera – correndo o risco de morrer no meio do caminho de tanto dar risada!

Toni, Mig e Leandro:
Os anjos da guarda que madrugaram para nos acompanhar até a Rodovia e garantir um acesso seguro, tranquilo e bonito!

Na Rodovia dos Bandeirantes

Foto: JP Amaral

Eu subestimei a Rodovia dos Bandeirantes. Quando a Célia lançou a idéia de pedalarmos até Piracicaba eu pensei comigo: são 160 km, semelhante a Taubaté, mas provavelmente bem mais tranqüilo que a Ayrton Senna e com bem menos subidas que a Castelo Branco.

Doce ilusão.

A Bandeirantes tem subidas fortes do começo ao fim. Caímos nela no km 19 e a primeira parada foi no km 34. Este trecho é repleto de subidas longas, íngremes e com curvas. Os 40 km em seguida são mais sossegados, mas também com subidinhas cansativas, que fazem você chegar na próxima parada (km 72) com fome, sede e vontade de tirar um cochilo debaixo de uma árvore.

A terceira parada (oficial) foi só no km 125. Por isso os mais de 50 km entre uma parada e outro foram repletos de subidas intermináveis, cenários contrastantes e histórias malucas – como o seqüestro da bike da Célia.

O km 134 foi a despedida da Rodovia, numa retona deliciosa que te joga numa super descida para cair na Rodovia Luiz de Queiroz – essa sim, um verdadeiro eterno mix de subidonas, descidonas, subidonas, descidonas... Mas no final da viagem concluí: a Bandeirantes não é tão moleza como eu pensei. Aliás, arrisco que ela seja mais difícil que a Ayrton Senna e com certeza muito mais cansativa que a Castelo Branco.

Arrisco tanto dizer que ela é a rodovia mais difícil que já pedalei que até toparia encará-la novamente. Só para ter certeza que estou dizendo a verdade – ou não!

Movida a batata e granola

Padala, pedala, pedala, pedala... fome... muita fome! Parada pra descanso, fazer xixi, repor as energias: começa a sessão de barras de cereal, banana, chocolate, power gel (blergh!), tudo para repor as energias e retomar aquele gás e continuar pedalando.

São muitas as técnicas para se repor carboidratos e sais numa longa pedalada. Eu sempre fui adepta das barrinhas, castanhas e frutas secas, além de banana, para evitar cãibras. Nunca me senti fraca na estrada, mas sempre tive problemas em me alimentar e depois sentir muita sede ou ficar com uma vontade louca de comer algo bem salgado.

Para essa viagem até Pira recebemos uma dica valiosíssima de nosso amigo Mig: batata cozida! É impressionante, dá uma baita energia, repõe os carboidratos bem rapidinho e deixa qualquer power gel no chinelo! Cozinhei um quilo de batata na noite anterior, passei no sal e embrulhei. Durante a viagem tivemos batata pra repor as energias (e os sais) de todos em todo o trajeto.

Para complementar - pois nem só de batata vive um ciclista! - contamos com um pacotão de um quilo de granola da Zona Cerealista. Que granola sensacional!!! Somada à banana, mel... pronto! O resultado: ciclistas bem alimentados e gastanto muito pouco - ou nada - com alimentação em lanchonetes caras na beira da estrada!

De agora em diante já sei: cicloviajar movida a batata e granola - e alguns complementos que fazem das paradas um verdadeiro piquenique!

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Chegou a vez de Piracicaba

O rio de Piracicaba

Uma vez alguém me falou que as pessoas tendem a gostar mais das cidades onde viveram enquanto cursavam a faculdade. Isso porque são nessas cidades que elas intensificam sua vida cultural, social, independente... No meu caso, essa teoria se aplica perfeitamente.

Cresci em Sorocaba e aos 17 anos mudei para Piracicaba para cursar a faculdade. Foi lá que aprendi a me virar sozinha, trabalhar, pagar as contas, fazer comida, faxina e, até mesmo, pedalar no trânsito! Foi lá que construí e descontruí muita coisa, conheci muita gente, me despedi de tantas outras e acumulei histórias e experiência que carrego comigo até hoje e me fazem ser quem eu sou. E a vida lá foi tão boa e intensa, que sempre achei que lá era a cidade da minha vida, onde eu ficaria para sempre e nunca precisaria ir embora.

Mas, também, numa cidade onde as pessoas tem orgulho te ser caipira, o som da viola é tão presente quanto o som do vento, as águas do rio parecem mover toda a cidade, os patrimônios históricos são belos e ocupados por uma sociedade que é uma mistura de jovens estudantes começando a vida, pessoas mais velhas que não quiseram sair dali e trabalhadores que chegaram lá no embalo do crescimento do setor canavieiro. A cidade é uma mistura, e as pessoas de diferentes jeitos e idades se misturam para ouvir seresta, comer peixe e apreciar o rio.

Toda essa poesia que me encantou não foi capaz de me manter por lá. Ainda assim ficaram lembranças de um tempo maravilhoso e uma vontade de, as vezes, retornar. Nesse sábado retorno a Piracicaba. Mas retorno do jeito mais especial que eu podereia retornar: de bike! Chegarei lá como a Evelyn que foi embora da cidade para tentar a vida em São Paulo, levou a bicicleta, começou a pedalar na cidade imensa, conheceu pessoas incríveis e especiais e agora retorna pedalando, como quem pedala em busca de sonhos mas também de lembranças.

Vou com amigos da Bicicletada até lá. Vamos pedalar 160 km para ver o "lugar onde o peixe pára" - esse é o significado da palavra Piracicaba. Chegaremos em época de Festa das Nações, uma festa sensacional que acontece no Engenho Central, antigo engenho de cana-de-açúcar que virou patrimônio histórico e concentra várias ações culturais da cidade. Na festa há barracas de diferentes países, com muita comida e bebida típica, shows de bandas locais e a alegria e jeitinho que só Piracicaba - e os piracicabanos - tem.

No domingo vamos fazer um "Piratour", levando o pessoal de São Paulo a conhecer alguns dos locais mais bonitos da cidade: o lago do bairro Santo Rosa, o bairro de Monte Alegre - que parece ter parado no tempo -, a Esalq, a B.O. (rua badalada da cidade!), sorvete da Paris (único no mundo!), o centro e a Rua do Porto. Um jeito lindo e prático de conhecer a cidade, mas que, tenho certeza, poucos já conheceram. Em Pira ainda predomina a cultura do automóvel. Lá o lindo é andar de carro. As pessoas usam carro para tudo. Até para andar uma quadra. Com isso, deixam de conhecer a cidade do jeito mais bonito de conhecê-la: com calma!

Essa viagem será privilégio - ainda - de poucos!

Sábado, 6h da manhã, saímos da Praça do Ciclista... Chegou a vez de Piracicaba!

sábado, 9 de maio de 2009

Meninas de bike


É lindo ver crescendo o número de bicicletas nas ruas da cidade. A cada dia sinto mais a presença delas. Elas estão por todos os lados, encostadas nos postes, transitando pelas ruas, avenidas, parques... Agora, o mais bonito nisso tudo é ver que essas bicicletas que ganham as ruas levam, cada vez mais, meninas.

Com tanta garota criando coragem e mostrando que a bicicleta é para todas, imagine o número de histórias e experiências acumuladas e que podem ajudar outras meninas a encararem o trânsito com as suas magrelas. Por isso, surgiu n lista da Bicicletada a idéia de realizar um pedal só de meninas. A proposta é reunir as garotas do pedal para um passeio - de bike, claro! - em que role troca de experiências e novas amizades.

O primeiro pedal já acontece neste domingo, com saída às 10h da Praça do Ciclista (Av. Paulista x Consolação), perto do Metrô Consolação. Por ser um domingão, a bike é permitida no metrô. Então, mesmo aquelas meninas que ainda não encaram longas distância, podem levar a magrela no vagão e seguir com a turma até o Parque do Ibirapuera. Companhias para a volta certamente não vão faltar.

No Parque vai rolar um piquenique com muito bate-papo e idéias para os próximos pedais. Mas, atenção (!), o rolê é de garotas, bem no estilo "luluzinha". Os marmanjos poderão comparecer, formar o grupo deles, seguir no trajeto deles no "clube do bolinha" e se somarem às meninas no piquenique no Parque.

Vai dizer que não é gostoso essa brincadeira de luluzinhas x bolinhas?! De bike então, deve ser divertidíssimo.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Cena bonita

O trânsito estava intenso na volta para casa. Mesmo assim, os carros pareciam respeitar mais. Abriam frestas nos pequenos vãos, não buzinavam, na ultrapassavam dando finas. Não entendia bem o que estava acontecendo, mas estava bom demais e, até mesmo, acreditei que algo está mudando na cidade.

Segui no embalo gostoso do vão livre entre os carros. Apesar da pressa necessária para resolver pendências, não quis me apressar. Estava muito bom. Na primeira - e única - subida do trajeto, subi tranquilo. Pedalando devagarinho ao ponto que parar em todos os semáforos. Seguia devagar, sem o desepero de passar antes do semáforo fechar, sem parar na faixa de pedestre. O trânsito estava humano.

Numa dessas paradas, a mais demorada de todas, estava eu no meio dos carros e uma menininha linda caminhava na calçada. Ela vestia uniforme de escola e estava de mãos dadas com os pais. O pai do lado esquerdo, a mãe do lado direito e ela no meio, quase sumindo, dando os passinhos leves e pequenos de uma criança.

Eu olhei pra ela e ela olhou pra mim. Ficamos assim, alguns segundos trocando olhares. Até que eu acenei. Ela parou e soltou da mão da mãe. A mãe tentou segurar a mãozinha pequena da filha novamente, mas a menina recusou. Recusou e começou a acenar para mim. Os pais se viraram para a rua e sorriram. Também começaram a acenar para a ciclista parada entre os carros.

O farol abriu, eu segui em frente acenando para a família que se despedia de mim, como se disessem, "vá com Deus", "boa sorte".

A cena foi linda, fez o dia ser especial.

Fico agora me perguntando: o que será que passava na cabeça da meninha enquanto nos despedíamos?

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Caminhos


Quando se anda de bike a gente vive a matutar sobre as melhores e piores opções de caminhos para se chegar a determinados lugares. As teorias são variadas: caminhos com menos subidas, caminhos mais curtos; caminhos com menos trânsito, com mais árvores, mais pássaros, mais flores, menos poluição...

Eu sou adepta da teoria que o melhor caminho é aquele que a gente sabe. Mas, de bike, costumo me dar muito mal com isso, pois os caminhos que eu conheço costumam ser os mais longos, movimentados e com muitas subidas. Fazer o que?! A cidade é gigante, cheia de atalhos - e labirintos - que fica facinho de se perder. Aí prefiro os caminhos mais convencionais - entenda aqui aqueles que foram criados para os carros parados nos congestionamentos do final de tarde.

Logo que comecei a pedalar até o trabalho o caminho que eu conhecia era horroroso, além de perigoso. Eu passava por ruas e avenidas movimentadíssimas, com faixas de ônibus, muitos carros, a minha "descordenação motora" e com direito a calçadas e contra mão. Era o estresse total, mas era o caminho que eu conhecia e eu preferia seguir a já habitual teoria. Até que, na Bicicletada, conheci o Leandro Valverdes que virou um verdadeiro padrinho e me traçous uma rota de ida e outra de volta de casa para o trabalho. Foi a minha salvação.

O caminho da ida era muito mais tranquilo, um pouquinho mais longo, mas um milhão de vezes mais agradável - com direito a árvores e pássaros cantando. A volta era também bem mais tranquila no quesito trânsito, mas puxada nas subidas. Aliás, acho que foi com esse trajeto que aprendi a ser um pouquinho mais corajosa com subidonas. Só um pouquinho, pois ainda tenho pavor de subidonas.

Com o tempo, o vai e vem pelo mesmo caminho foi ficando enjoativo e alguns dias eu tinha uma baita preguiça de voltar pra casa pedalando, só de pensar nas subidas da Vila Madalena. Aí criei coragem, mudei minhas teorias e conceitos e comecei a me arriscar em ruas estranhas ao meu limitado guia mental de ruas paulistanas. Descobri ruelas, becos e também outras ruas movimentadas, mas mais planas e "sem traumas".

Hoje, depois de criar umas quatro opções de caminho de ida e umas seis opções de caminho de volta minhas pernas parecem girar no piloto automático. As vezes saio de casa ou do trabalho sem pensar no caminho e de repente, do nada, percebo que escolhi um caminho aleatoreamente. É legal que consigo fazer caminhos conforme o meu humor, a minha pressa, a minha disposição, a minha tpm (!).

Independente da opção de caminho do dia, todas elas são mais rápidas, mais alegres e mais vivas que qualquer outro meio de transporte. Como é bom ter caminhos para se escolher e no final todos eles resultarem no mesmo prazer! Acho que é por isso que eu nunca mais vou conseguir ser adepta do uso diário de um veículo motorizado.

terça-feira, 28 de abril de 2009

A cidade onde as crianças gritam "menos carros, mais bicicletas"

Trabalhar o dia todo, participar da Bicicletada, dormir por três horinhas, acordar cedo, pegar a magrela e pedalar 100 km. Pode parecer loucura, mas tudo isso vale totalmente a pena quando no final você vê uma criança de uns dois anos de idade, em cima de uma bicicletinha minúscula, olhar para você e gritar: "menos carros, mais bicicletas"!

Pois é, foi isso que vimos nesse final de semana em Sorocaba durante o passeio ciclístico do Colégio Véritas. Já falei dessa escola em outra ocasião. São eles quem criaram o "Caminho para a Escola", onde a molecada vai pedalando até o colégio acompanhada de um monitor, são eles quem fazem o projeto da Recicleta e são eles que incluiram a bicicleta como tema a ser trabalhado com os alunos em todas as disciplinas da escola. No final, o que se vê é isso: crianças que pedem menos carros e mais bicicletas.

Dessa vez não teve carro no meio do caminho para eu atropelar e sim uma pedalada muito tranquila, acompanhada de paradas longas, que nos pouparam de um sol forte, muitas risadas - daquelas de dar dor no abdômen -, por do sol nos recebendo na cidade, quatro pneus furados e um queixo rasgado! Pois é, não teve jeito, tivemos que parar no hospital para o Gilberto levar pontos no queixo após um tombo bobo numa das paradas na estrada. No final, já estávamos até famosos na Santa Casa de Sorocaba!

Mas, nem esse incidente conseguiu estragar o ânimo e a energia da viagem. Chegamos no colégio Véritas com uma recepção muito humana e carinhosa. A escola preparou um baita lanche para nós e disponibilizou um alojamento 5 estrelas com cama, mesa e banho quente! Tudo para garantir um começo de domingo descansados e dispostos a participar do "Pedala Véritas". Dessa vez, o passeio ciclístico era para comemorar antecipadamente o Dia das Mães. Ao contrário dos anos anteriores, quando a direção da escola fazia uma festa para comemorar a data, este ano a data foi lembrada com as crianças, as mães, os pais, os irmãos e quem mais quisesse pedalando.

Durante o trajeto fomos surpreendidos com a molecada de todas as idades que gritava "menos carros, mais bicicletas". Um verdadeiro privilégio poder fazer parte disso tudo e ainda poder ver que Sorocaba é cada vez mais uma cidade amiga das bicicletas.

Uma cidade onde as crianças já pedem por menos carros e mais bicicletas te faz acreditar que é possível um futuro diferente para a mobilidade urbana das cidades.

A turma rumo a Sorocaba
Na estrada: descida maravilhosa após uma subida de 11 km

Pra onde vamos?!

O por do sol nos esperava na entrada da cidade

Na Santa Casa de Sorocaba, famosos e com o queixo do Gilberto já costurado

Na entrada do Véritas o cartaz já anunciava a pedalada do dia seguinte
A bicicleta unindo o pessoal de São Paulo e Sorocaba

Pedala Véritas: gente de todas as idades, menos carros, mais bicicletas e mais calor humano
Fotos: JP Amaral