quinta-feira, 12 de março de 2009

A filha doente

Não deve haver nada mais angustiante para uma mãe ou um pai do que ver o filho doente. Ver aquela coisinha tão amada, tão querida, sofrendo deve ser doloroso demais.

Pois acho que estou me sentindo assim estes dias.

A Serafina chegou em dezembro do ano passado, numa época em que não fazia planos de comprar outra bike, pois já estava investindo na passagem e nas economias para a Alemanha. Mas, as outras duas bicicletas que eu tinha - batizadas como Sorocabana e Piracicabana, de acordo com o local de nascença de de cada uma - já estavam "fraquinhas" para as aventuras que eu comecei a me meter.

Por exemplo, tentar descer para Santos - e voltar pedalando para São Paulo - numa Caloi Terra Piracicabana não foi muito saudável. Nem para mim, e nem para a magrela de Piracicaba. A coitadinha, no final da viagem, após mais de 150 km pedalados, estava um bagaço, detonada, só com três marchas dando sinal de vida.

O resultado, foi um puxão de orelha do bicicleteiro, dizendo que eu devia ser louca ou, no mínimo, não percebia que eu aparecia na bicicletaria a cada 15 dias para arrumar algum probleminha - ou problemão - nas minhas bicicletas. Enfim... fui convencida a fazer um leve "upgrade", que não me custaria muito (com a venda das duas bicicletas caipiras) e não atrapalharia as minhas economias para a viagem alemã.

Eis que chegou a Serafina!!!! Uma Scott usada que ficou um ano e meio parada, sem sair do lugar, encostada em algum canto, de alguma garagem, em algum prédio em São Paulo. E ela chegou para me encher de alegrias e de preocupações.

Nas primeiras semanas, o câmbio dela insistia em desregular. De arrumação em arrumação, revisão em revisão, o câmbio resolveu ficar em seu devido lugar. Maravilha!

Eis que o pneu resolveu furar - a Caloi Terra em mais de dois anos nunca furou um pneu, a Sorocabana só uma vez e na estrada -, agora essa magrela amarelinha me resolve furar o pneu parada no bicicletário do serviço? Muito abusada!

Mais uns dias, estou eu pedalando na Faria Lima e o câmbio resolve ir para o espaço de vez. Soltou um parafuso maluco, e lá vai eu ficar a pé a uns 6 km de casa... o negócio foi empurrar a Serafina...

Mas, todos esses perrengues me faziam amar e odiar a Serafina. E eu coloquei na minha cabeça que faria essa bicicleta deixar de ser fresca e temperamental e rodar esse mundão todo! Até que nos entendemos!!!

Em clima de harmonia, partimos para a nossa primeira cicloviagem: carnaval em Sorocaba!! E no caminho, pof... a pancada no carro parado no acostamento. Na hora, acho que fiquei mais preocupada com a bicicleta do que comigo mesma, mas visivelmente ela estava bem, um pouco desregulada com a batida e um tanto quanto estranha. Imaginei que o garfo dela tinha entortado. Dos males, me parecia o menor. Depois disso, até pedalei uns 200 km com ela.

Então, chegou a hora de encostá-la para uma super revisão. Afinal, a batida tinha sido forte e eu sabia que a Serafina estava machucada. Ferimentos leves, pensei... para ela ficar feliz, ainda mandei colocar um cestinho nela e aí poderíamos pedalar carregando flores!

A internação durou 5 dias! Já estava morrendo de saudades. Eis que me liga o rapaz da bicicletaria:

- Já está pronta, pode vir buscar...

(ebaaaaaa)

- ... mas tem um probleminha...

(aiiiii)

- ... não foi o garfo quem entortou, foi o quadro. O negócio é grave, não adianta tentar arrumar , então é bom você pensar em trocar esse quadro num futuro bem próximo...

Pronto! Matei a Serafina! Na minha cabeça, trocar o quadro é quase a mesma coisa que trocar de bicicleta.

Passei estes dias consultando bicicleteiros, amigos ciclistas... o quadro do quadro é dasanimador! A parte que amassou é muito delicada e tentar arrumar pode comprometer ainda mais o quadro.

Desde então, estou com a sensação de ter uma filha doente. Cada pedalada me parece uma judiação. Fico achando que ela não vai aguentar, que o quadro vai partir a qualquer momento... procuro mais opiniões, mais sugestões... mas pelo que já ouvi, o negócio vai ser trocar o quadro mesmo.

Um amigo me falou que o quadro é a alma da bicicleta...

Teria um pai coragem de "transplantar" a alma do seu filho?!

Ando meio agoniada com isso.


A Serafina na Praça do Ciclista - ainda em nosso momento de harmonia
A amassada no quadro

E outros machucadinhos do acidente

2 comentários:

  1. Você já pensou no que pode te acontecer se o teu quadro rachar enquanto você pedala? Queixo no chão, hospital, uns dias sem tomar banho, dor e cicatrizes. Super convidativo, não? Troca logo esse quadro, mulher!
    Beijo.

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  2. Putz linda que chato... Eu tô aqui com o coração apertado pela Serafina... Mas a Lou tem razão troca o quadro... e a alma não será trocada não. Pq a Serafina sempre te dará muita alegria... e até esse temperamento dela é para vcs se conhecerem melhor...rsrsr se amarem mais!!! E sem dúvidas vc ter muita história para contar... imagina se a Serafina fosse uma pacata e sem personalidade bike. Ah nao seria sua bicicleta com certeza rsrsrs.
    beijo querida e se cuida ai hein!

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