domingo, 19 de abril de 2009

Tá tudo errado

Eu, na minha santa ingenuidade, fui daquelas que cresceu acreditando que repressão era coisa do periodo da ditadura. Mas, com o tempo, fui percebendo que a ditadura militar foi uma das formas de repressão da sociedade, pois outras ditaduras e maneiras de reprimir as pessoas estão aí, sempre presentes em todos os lugares. No final das contas, sempre temos uma sociedade tomada pelo medo de alguma coisa.

Pedalar em São Paulo talvez seja até uma maneira de ir na contra mão de uma repressão presente na cidade. Cidade esta que, apesar de não ter mais onde enfiar os seus carros e registrar índices absurdos de poluição atmosférica, prefere priorizar os veículos motorizados, tirando espaço dos pedestres, dos ciclistas e arranjando sempre um cantinho a mais para criar outro congestionamento. São Paulo é uma fábrica de trânsito.

Manifestando-se "naturalmente" só pelo fato de pedalar nesta cidade, nos deparamos com injustiças que chegam a dar nojo. Injustiças que nos tornam indignados e ao mesmo tempo unidos e fortes para reivindicarmos por nossos direitos, que apesar de claros e diretos no Código de Trânsito e nas leis municipal, estão esquecidos nas montanhas de papéis.

Esta semana, tivemos um exemplo claríssimo do tipo de injustiça que estou falando: a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego - ou seria de Trânsito?!) simplesmente transformou um acostamento da Marginal Pinheiros em via para os carros. Ou seja: um espaço antes usado por (muitos) pedestres e ciclistas como via mais fácil de acesso ao Morumbi, agora virou faixa de veículos e passou a ser proibido àqueles que optam por não congestionar e poluir a cidade.

Indignadíssimos, um grupo de ciclistas foi lá e repintou a faixa, fazendo ressurgir o acostamento morto. A CET e a PM, óbvio, não deixou barato, foi lá, repreendeu, oprimiu e prendeu um ciclista e ainda deixaram ameaças do tipo "se vocês publicares estas imagens [das câmeras em posse dos ciclistas] serão processados". Liberdade de expressão, direito de ir e vir e denúncias sociais, então, se tornaram apenas discurso utópico do fim de uma ditadura?!

Para aumentar o ridículo, a CET anunciou que vai multar os ciclistas presentes no protesto. Multar como? Multar quem? Sob qual alegação? Quem é que está errado nessa história?

Ando confusa e revoltada com tudo isso. Ano passado, vi um policial sair do carro, apontar uma arma para mim e um grupo de ciclistas que queria descer de bike até o litoral, e gritar "desce da bicicleta" (o fato chega a ser bizarro, de tão ridículo!); esse ano a CET envia uma multa ao ciclista considerado, por eles, "o líder" da WNBR, alegando que o evento causou congestionamento(!); agora essa palhaçada do acostamento.

Tô achando que a polícia e a CET não tem o que fazer. Afinal, vivemos numa cidade tranquila, segura e com uma qualidade de vida invejável a qualquer cidade do mundo, não é?!

Tá tudo errado, tá tudo errado...

Mais sobre o ocorrido no acostamento da Marginal Pinheiros no: Vá de Bike

Uma mostra do ridículo: PM ameaçando processar ciclista

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