O que faz uma cidade feliz?!
Quando eu era pequenininha, meus pais resolveram mudar para Sorocaba em busca de uma cidade mais tranquila e feliz! E realmente, lá fui muito feliz! Eu podia ir sozinha para a natação, ginástica olímpica, basquete e brincar na rua com a molecada.
Aliás, foi nas ruas sorocabanas que aprendi a andar de bicicleta, cair, ralar o joelho e dar risada!
E quando eu já achava que Sorocaba não era mais tão feliz assim, quando a cidade cresceu e ficou estranha, me veio Piracicaba. Quer dizer, eu fui para Piracicaba cursar a faculdade e no primeiro mês já dizia que tinha achado a cidade da minha vida. Me imaginava envelhecendo ali, criando os meus filhos às margens do rio, pescando, fazendo piquenique, andando de bicicleta pela Rua do Porto... eu era feliz.
Só que um dia achei um vazio em Piracicaba. Um vazio que eu não sei explicar o que é, mas que eu sabia que não seria preenchido ali. Então, surgiu a imensa, a grande, a gigante, a impossível: São Paulo.
Sempre fui daquelas que dizia "eu nunca vou morar em São Paulo". Quebrei a cara! Pois na primeira oportunidade, larguei toda a felicidade piracicabana, arrumei a mala, a cuia, a geladeira e o fogão e vim embora me arriscar na paulicéia desvairada.
Logo de cara detestei toda a cidade. Para mim tudo aqui era imenso e frio. A sensação que eu tinha era que o coração das pessoas devia ter sido concretado junto aos prédios gigantescos e infinitos. Não conseguia ver sorrisos, gratidões, alegrias... achava a cidade triste. Comecei a ficar agoniada. Na primeira oportunidade, sempre pegava minhas coisas e partia para Sorocaba ficar com a família e me sentir em paz.
Comecei a cogitar a possibilidade de voltar a morar em Sorocaba. São só 100 km de São Paulo, ônibus rodoviário a cada 15 minutos... não seria difícil viajar todos os dias para trabalhar. E ainda por cima, teria a certeza de um sono tranquilo, em uma cidade, talvez, mais humana. Talvez! Enquanto pensava se voltava para Sorocaba, se encarava São Paulo de uma vez por todas, tomei uma decisão: tirei a poeira da minha Caloi Terra, que foi meu meio de transporte por anos em Piracicaba, e resolvi que não seria diferente só porque a cidade era muito maior, muito mais perigosa e as pessoas mal educadas.
Na verdade, pedalando em São Paulo foi a maneira que encontrei de sentir que eu ainda tinha, ao menos, um pouco do meu estilo de vida do interior. Mas, logo de cara, passei altos perrengues. Não conhecia a cidade direito, fazia caminhos horrorosos, caia em ruas movimentadíssimas. Sofria. Mais um motivo para eu achar que São Paulo, definitivamente, não era o meu lugar.
Eis que num final de semana em Sorocaba, estava eu e minha bike guerreira, que ganhei no meu aniversário de 11 anos, circulando pelas ciclovias da cidade (ai que orgulho!) e encontro pedalando, no sentido oposto, um amigo de longa época, que não via há, no mínimo, uns 5 anos. Automaticamente, eu fui torcendo o pescoço para ver se era ele e ele torcendo o pescoço para ver se era eu. Cada um deu meia volta e eis o papo do "nossa!!... quanto tempo / o que tá fazendo da vida?"... essas coisas! Contei que estava em São Paulo e antes mesmo de começar a reclamar, falar que a cidade era chata, fria, louca... ele me disse: "meu, você precisar ir em uma bicicletada"!
Não fazia a menor idéia do que era aquilo. Ele me explicou bem por cima, pois tínhamos mil outros assuntos para "colocar em dia". Gravei o nome na cabeça. Cheguei em casa, corri para o Google e digitei "Bicicletada". Surgiu o http://www.bicicletada.org/! Descobri que era um grupo de pessoas que pedalam em São Paulo e se reúnem na última sexta feira do mês na Praça do Ciclista, em plena Av. Paulista com a Consolação, para reivindicar o espaço que é, por direito, também das bicicletas nas ruas e no trânsito da cidade.
Achei interessante. Era mês de junho e resolvi conhecer. A primeira angústia: Como eu, estabanada e assustada, chegaria de bike até a Av. Paulista?! Entrei na lista de e-mail da Bicicletada e descobri um "bonde" de ciclistas que sairiam do Butantã, pertinho de mim! E assim, consegui chegar, pela primeira vez, de bike, na Av. Paulista! E neste dia, ela parecia linda e cheia de calor humano. As pessoas faziam uma festa junina na Avenida mais movimentada - e fria - da cidade! Eram tantas bicicletas, tanta alegria, o calor humano misturado ao calor do vinho quente, muito quente, que prepararam ali mesmo... pela primeira vez eu sentia que eu estava gostando muito de estar em São Paulo.
Naquele dia, fui embora para casa pensando que havia achado o tipo de pessoas que eu gostaria de conviver... estava tão feliz que nem doeu o baita tombo que levei em plena Cardeal Arco Verde...
Enfim, foi aí que comecei a viver São Paulo e a fazer a minha São Paulo.
De pedaladas em pedaladas, descobri lugares, pessoas, sentimentos, aventuras... mudei o meu olhar para São Paulo (e acabei criando esse blog para tentar contar um pouco disso tudo por aqui)!
Na verdade, descobri que não existem cidades felizes ou infelizes. Aprendi que somos nós quem fazemos a nossa feliz cidade feliz!
quarta-feira, 21 de janeiro de 2009
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Olha Evelyn, sinceramente curti demais tudo isso que você disse. Meus parabéns pelo blog, eu tenho certeza de que você vai ter muitas historias para contar aqui.
ResponderExcluirBeijos enormes!
Bruno Grego
Seu primeiro post ficou ótimo! Parabéns pela iniciativa. Vou aguardar anciosamente por novos posts com essa sua visão de mundo meiga, bem humorada e otimista.
ResponderExcluirBeijão.
Bruno Giorgi
pra continuar com os brunos! :)
ResponderExcluirMuito bom o seu texto Evelyn, a bicicletada me fez ver São Paulo com outros olhos também!
Pessoas maravilhosas!
A abertura tá linda, o texto tá cativante. Refletem um pouco do que é a nossa menina que, continua pequena, mas imensa no talento e na beleza.
ResponderExcluirVisitarei assiduamente para encontrar refrigério ao coração que continua assustado com tanta aventura.
hunf, nao consegui comentar ontem...
ResponderExcluirMinha querida... Quantas saudades e orgulho de você! Que delícia saber que você está bem e que continua com o mesmo olhar de descoberta para o mundo! Você definitivamente é um ser iluminado! beijos saudosos da sua torcedora e fã
ResponderExcluirVã
Que orgulho da minha pequena!
ResponderExcluirAdoro dividir casa, trabalho e alegrias com você Evelyn! Já tem um lugar permanente e vitalício no meu coração.
Alguma coisa acontece, quando cruzo a Ipiranga com Av. São João...e depois com a turma de participantes da bicicletada, pedalei pela mais famosa esquina da cidade. ( ops, e quasse foi parar no bar Brahma, já reformado.)
ResponderExcluirContinue sua crônica, linda e bela jornalista.
Abraços
Parabéns pelo seu blog, lindo texto, mais um canal para as pessoas descobrirem maneiras diferentes de ver nossa cidade. Bem vindo, conte comigo e pode usar quantas fotos minhas quiser para ilustrar seus textos.
ResponderExcluirBjs e boa sorte.
André Pasqualini